quinta-feira, 27 de maio de 2010

Apresentação - Não estamos sós: as outras inteligências da Terra

"Chega a ser absurdo ficar se perguntando se estamos sozinhos no Universo. Não estamos. Nunca estivemos" (Lopes, RJ., 2009 . Além de Darwin. Editora Globo).

Vamos iniciar mais uma série de três textos, dessa vez abordando algo muito bacana: a origem do sistema nervoso, sua evolução e as diversas mentes além da nossa que estão presentes hoje aqui mesmo na Terra.

Se nossa cognição gigante e fluida ainda está sendo compreendida por nós mesmos, há ainda todo um abismo que nos separa das outras mentes presentes na natureza. Após iniciarmos nossos estudos sobre essas infinitas formas de grande beleza garanto para vocês que não precisamos de mundos digitais cheios de cores e efeitos 3D para nos impressionar. Aliás, nenhuma tecnologia cinematográfica ainda é capaz de retratar em detalhes a beleza da vida na Terra. Comparado ao nosso planeta, Pandora é um desenho mal feito!

Já que toquei nesse ponto, em Avatar os Na'vi parecem entender a conexão da vida e saber que não estão sozinhos no seu planeta. Isso eu tiro o chapéu para James Cameron, porque se há algo manifesto em nossa espécie, tão inteligente e dona de si, é sua alienação e absurda falta de humildade em reconhecer que ainda tem muito que aprender. Em palavras mais diretas: após dois séculos de ciência ocidental como a conhecemos hoje, sabemos muito pouco sobre a vida e nem conseguimos, no mínimo, enumerar quantas outras espécies existem hoje ao nosso lado. "O mistério dos mistérios" (segundo Charles Darwin) continua nos desafiando no século XXI!!!

No dia a dia, você sai de casa e volta, encontra pessoas, liga a TV, escuta música, estuda para se profissionalizar... Mal olha ao lado, menos ainda para os céus! Aí compra uma revista, ou vê um vídeo no You Tube sobre ETs e nosso desejo de fazer contato com outras formas de vida inteligentes... O irônico disso tudo é que há formas inteligentes do nosso lado e, pelo simples fato de não serem humanas, quase que ignoramos por completo isso.

"Animais" que muitos acham "instintivos" e/ou "robôs genéticos" são constituídos como nós mesmos. É nossa pura e simples ignorância de entendermos essa conexão com nossa mente, menos ainda, que se somos frutos do mesmo processo de evolução de todas as formas de vida deste planeta... Assim, voltamos ao início desta apresentação, surpreenda-se: NÓS NÃO ESTAMOS SÓS!!!

Como nos atrevemos a gastar tanto dinheiro em projetos como o SETI ("Search for Extra-Terrestrial Intelligence") à procura de uma mente similar a nossa, mas esquecemos que aqui na Terra há miríades de outras mentes que não entendemos?! Esta série de textos trata exatamente disso. No primeiro irei abordar a origem do sistema nervoso e como é viver como um invertebrado marinho, da origem até os mais inteligentes de todos, os polvos e lulas.

No segundo texto trará as mentes aguçadas dos vertebrados e os exemplos de cognição como o papagaio Alex que, por incrível que pareça, deixou-nos a todos surpresos em saber como uma ave pode ser tão inteligente(?!).

No último, não deixaria de reservar apenas para nós primatas. Chimpanzés são idênticos a nós, diferem apenas em grau! Somos maiores em tudo... E isso não quer dizer absolutamente nada!

Recentemente o renomado físico britânico Stephen Hawking [clique] alertou sobre o que poderia acontecer se esse nosso desejo de entrar em contato com mentes alienígenas similares a nossa se realizasse. A história humana, que muito bem conhecemos, já demonstrou na prática o que é possível quando grandes mentes similares se encontraram. Ou uma delas é varrida da face da Terra (exemplo dos neardenthais), ou é escravizada à força. Mais ainda, nos dias de hoje senão somos escravos, somos explorados pelos senhores do Capital.

O paleontólogo britânico Simon Conway Morris deixou claro em seu livro "Life's Solution - Inevitable Humans in a Lonely Universe" (2003 - Cambridge University Press) que nós humanos até podemos ser o primeiro experimento de grande cognição neste planeta e o único que conhecemos no universo, mas, isso não quer dizer o último! Caso nos matemos por coisas tolas como um sistema alienado de vida artificial (Capitalismo), ou o planeta se torne inóspito para mamíferos... A natureza seguirá sem nós e outras grandes mentes poderão surgir.

Espero que não ponhamos tudo a perder e que saibamos aproveitar toda a dádiva que temos. Mas, se erramos ao ponto de não mais existir, pelo menos que outros no futuro aprendam como nós macacos trocamos os pés pelas mãos por tolices.

Feita a apresentação! Venha agora viajar comigo entre a beleza e mentes de nosso planeta. Sinta o mundo pulsar e nossa solidão se dissipar simplesmente por olharmos ao lado. Não há uma mente no universo, há milhares delas só aqui na Terra!!!

Conecte-se... e comunique-se com elas!!!

Não estamos sós: as outras inteligências da Terra!!!

19 comentários:

Unknown disse...

Pior que eu conscientemente vou lá no supermercado e compro comida. Invariavelmente são pedaços de seres inteligentes.
Mas comer pedaço de vaca é culturalmente aceito aqui no Brasil (e gostoso).

Waltécio disse...

Nossa grande e flexível cognição tem dessas coisas. Compreendemos muito do mundo, inclusive nossa necessidade de devorarmos partes, ou organismos inteiros.

Literalmente, nós somos algo como vampiros que precisam tomar de outros seres vivos aminoácidos, vitaminas, açúcares, etc. Quando escrevo "tomar" que dizer na maioria das vezes "matar".

Mas a natureza dá e toma de volta! Além de perdermos parte do que somos durante a vida, na morte tudo que está em nós será resgatado. Em palavras mais poéticas: "do pó ao pó".

Acho que temos que entender melhor o que significa a morte e a transitoriedade da vida como a conhecemos. O pensamento oriental a muito avançou sobre isso. Morrer é algo que tem significado catastrófico apenas para o indivíduo. Quem conseguir compreender e superar o apego a si mesmo, o amor próprio visceral, terá o Nirvana como recompensa.

Logo voltarei ao assunto no Blog... Por enquanto, como bem canta o professor Michaelson da Economia: "Carpe diem"!!!

Unknown disse...

Você tem razão. Só que a gente tem que ir ao supermercado e comprar a carne.
Que forma desonrosa perante a natureza! Privatizamos até o que foi morto!
Ou quando não, temos aquelas atitudes corajosas como a do Roberto, que caçava o grande e feroz beija-flor só para comer o coração do bicho...

Grande "coragem" a dos H. Sapiens.

msistemista2 disse...

para DARLAN e WALTÉCIO - sobre as relações/conexões calóricas (matéria e energia) entre a nossa espécie humana e o meio ambiente terráqueo (sistemicamente, nossa exoestrutura), onde evolutivamente fomos constituídos e vivemos: A MÁQUINA DO TEMPO, filme mto interessante de ver, pensar, discutir... http://www.adorocinema.com/filmes/maquina-do-tempo-2002 (em um futuro imaginário, c a extinção dos animais domesticados, emerge uma nova e bizarra relação/conexão/exoestrutura calórica)

depois de assistir a este filme, fiquei inspirada p fazer uma instalação (artes plásticas) c 3 peças: um boi pregado na cruz; uma galinha pregada na cruz; um porco pregado na cruz // ou, mais semioticamente: uma carcaça de boi morto pregada na cruz; uma galinha sem cabeça, depenada e degelada pregada na cruz; um gde pedaço da bacon pregado na cruz // se fizer, convido vcs

msistemista2 disse...

concordando c prof WALTÉCIO: sistemicamente, todo ser vivo (inclusive nós) é uma espécie de vampiro; i.é, todo sistema vivo é um sistema material e energeticamente aberto q precisa realizar trocas c o seu meio ambiente: tomando/matando por um lado; e, por outro, devolvendo partes de si durante a existência, ou tendo q se devolver/dissolver/dissipar por inteiro (morte)

mto lindo: "Mas a natureza dá e toma de volta! Além de perdermos parte do que somos durante a vida, na morte tudo que está em nós será resgatado."

msistemista2 disse...

Qdo WALTÉCIO sabiamente diz... "Morrer é algo que tem significado catastrófico apenas para o indivíduo",
EDGAR MORIN tb concorda c ele, dizendo... "Ser sujeito é ser [...] quase tudo para si e quase nada para o Universo."

http://tsistemica.blogspot.com/2010/03/glossario-sujeito-por-morin.html

msistemista2 disse...

Feita a apresentação, fico na espera dos próximos capítulos deste seriado WALTÍSTICO sobre a beleza das outras mentes de nosso lindo planeta Terra!

(sorte o prof WALTÉCIO postar seu seriado na internet, pois, como diz PIERRE LÉVY: na internet o tempo se transforma em um gde tempo-presente, posto q o q é passado não vai embora e o futuro chega a toda hora; assim, este seriado do BLOG MACACO ALFA poderá ser lido ad infinitum)

livro: A INTELIGÊNCIA COLETIVA, POR UMA ANTROPOLOGIA DO CIBERESPAÇO, Pierre Lévy, 1998

msistemista2 disse...

mas, chega de lotar a sua caixa de comentários! passei por aqui só p divulgar algo mto-mto-mto útil e convergente c biólogos evolucionistas e não-antropocentristas...
http://www.facfil.ucp.pt/biosemiotics/
(está começando HOJE em Portugal! se pegar um avião agora, ainda dá tempo de vc chegar amanhã! estou sem din-din p ir e levar meu-cara-metade, então depois vc me conta tudo :-)

msistemista2 disse...

último comentário, só mais um, pq a frase do Darlan é BRILHANTE...
"Grande 'coragem' a dos H. Sapiens."

Francisca Rolim disse...

Totalmente "biólogo" esse post... E se eu disser que você está se aproveitando de uma arbitrariedade pra dar validade ao seu campo de trabalho?

A arbitrariedade a que me refiro, claro, é o conceito de inteligência. Pra você, no seu post, o conceito é tal que viabiliza e reforça a importância dos animais e do estreitamento do nosso relacionamento com eles (vamos admitir que isso é muito conveniente pra um biólogo).

Ei, não se ofenda... Os astrônomos fazem isso também. Pra eles o conceito de inteligência é desenvolver tecnologia e serem capazes de se comunicar com outras espécies. Basta que eles consigam construir um radiotelescópio (maneira mais simples de mandar sinais à velocidade da luz) e mandar sinais contendo informações. Também é conveniente para os astrônomos, não? Eles chamam isso de "vida inteligente fora da Terra" e ganham muito espaço nas revistas e nos canais como o Discovery.

O conceito de inteligência (pra não repetir a palavra "arbitrário") depende das condições de fronteira do campo em questão. A filosofia fala em auto-inferência (a capacidade de se referir a si mesmos, tomar consciência de si e se referir a si como entidade que existe), os neurocientistas e cientistas da computação falam em sentiência, fazem o tal do teste de Turing... Até a teologia tem uma maneira de separar alguns indivíduos ("inteligentes") de outros: a alma.

Pra mim, físico, só interessa como obter informações a respeito daquilo que é observável e testável. "Inteligência" é apenas mais uma palavra e atribuir uma ou outra definição de inteligência a ETs, gafanhotos, vacas, cachorros, golfinhos ou o que for, é inútil. Poético, romântico, humano, talvez... Mas ainda assim inútil.

Acho que transmiti meu ponto sem ofender ninguém...

msistemista disse...

êita debate animado esse, sô! físicos, biólogos, filósofos, historiadores! então... se o modelo lógico utilizado p compreender a inteligência for binário - um ser pode ter inteligência ou não ter inteligência - então a questão poderia se encerrar como o EDUARDO ponderou. Porém, se (acompanhando os ciberneticistas, biossemioticistas, sistemistas, teóricos da informação, teóricos da complexidade etc.) consensuarmos... (1) a inteligência humana foi evolutivamente constituída; e (2) q EXISTEM MTAS FORMAS DE INTELIGÊNCIA, em um continuum, em um gradiente, em um espectro... então teremos q aceitar: q todos os seres vivos são inteligentes (se não, não conseguiriam permanecer vivos); e q, sendo todos inteligentes, apenas caberia pesquisar sobre qual tipo de inteligência este ou aquele ser teria!

msistemista disse...

para WALTÉCIO e EDUARDO - a propósito da inteligência ser abordada como um gradiente de modalidades, qualidades e quantidades diferentes, ver o biólogo e ciberneticista Gregory BATESON no seu livro MENTE e NATUREZA, q trata exatamente sobre isto... http://tsistemica.blogspot.com/search/label/Mente%20e%20Natureza

msistemista disse...

WALTÉCIO e EDUARDO - a respeito de um professor (JORGE VIEIRA) astrofísico q segue esta linha do Gregory BATESON, dar uma espiadinha em... http://tsistemica.blogspot.com/search/label/FORMAS%20DE%20CONHECIMENTO%203

msistemista disse...

WALTÉCIO e EDUARDO - continuando sobre o gradiente da inteligência, ver tb q ela é algo q ocorre não apenas nos INDIVÍDUOS vivos, como tb nos GRUPOS DE INDIVÍDUOS vivos, como é o caso da INTELIGÊNCIA COLETIVA das formigas, cardumes, manadas etc. (ver, p explo, os livros da Débora Gordon e do Steven Johnson... http://tsistemica.blogspot.com/search/label/FORMIGAS)

msistemista disse...

WALTÉCIO e EDUARDO - neste caminho, na dimensão coletiva da inteligência, tb convergente c Lynn MARGULIS e Fritjof CAPRA estão Humberto MATURANA e Francisco VARELA c o livro A ÁRVORE DO CONHECIMENTO (delicioso!)... http://tsistemica.blogspot.com/search/label/A%20%C3%81RVORE%20DO%20CONHECIMENTO

Francisca Rolim disse...

wtf?

NáJung disse...

Uma beleza de Post, Waltécio, e comentários LIDOS!!
FUI ''VAMPIRIZADA''...rsrs... Sem mais para ''agregar''!!!

Go Ahead!

Anônimo disse...

Caro Waltécio,

Vim "reclamar" a ausência de novos posts. Imagino que esteja muito atarefado em suas ocupações, mas venho como uma fã sedenta lhe pedir por mais escritos.
Desde a primeira vez que li não consegui deixar de visitar o seu blog e faz exatamente um mês que terminei de ler todos os textos daqui e alguns de seus artigos.
E por falar em artigos, gostei muito de seus últimos com etnobiologia...

Voltando ao assunto, não passe tanto tempo sem rabiscar por aqui seus pensamentos e críticas demasiadamente intrigantes e explicativas.

Um abraço, de sua leitora
Maria Clara

Waltécio disse...

É verdade, Maria!

Bem, o atraso maior é porque eu estou tentando fazer um bom texto. Não é façil escrever sobre sistema nervoso sem ser chato, tipo livro de aulas da graduação. Por outro lado, nesse tema, eu não posso ser superficial demais para não ficar no campo só da opinião particular. Aí junto essas duas necessidades com uma terceira e mais importante: os textos não podem ser grandes!

O primeiro texto sairá agora em julho. Esse é o que está me ocupando mais, porque trata dos invertebrados, ou seja, a maioria esmagadora dos animais. Queria pegar umas coisas legais de outros grupos que ninguém costuma falar, já que os polvos ficarão com boa parte dos parágrafos.

O segundo é um pouco mais fácil e o terceiro é pura diversão, daquela típica do Macaco Alfa... Esse eu garanto, vou fazer você sorrir.

Voltando ao início, é, eu também ando trabalhando nas prioridades de meu emprego. Isso passa pelo básico (ministrar aulas) e segue pelos artigos que tenho de finalizar, projetos para submeter, relatórios para apresentar, ou corrigir, comissão de seleção do mestrado, banca examinadora do concurso aqui na URCA... e quando tudo isso me enche demais... Vem é um ócio paralizante junto com uma boa enxaqueca... Aí tomo um comprimido de Cefaliv e vou dormir!!!

É isso! Desculpem-me! Logo volto a soltar o Macaco Alfa novamente!!! Ah! Não esquecerei do Macaco Ômega, coitado, sempre deixado para trás!!!

Tudo de bom, gente!!!

 
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