Em um milhão de anos de nossa existência como seres humanos sobrevivemos a todas as catástrofes naturais até então. Claro, nada em grande escala, mas fomos fortes o suficiente para resistir à glaciação, furacões, tsunamis, secas terríveis... Até agora fazemos parte dos animais “duros de matar”!!!
Ok, grande parte do que for escrito aqui está naquele nível de “conforto” que resulta no nosso “Ufa! Eu não estarei vivo para ver algo assim!” descrito no post "Sobrevivência Humana: Natureza e Modelos Sócio-econômicos ". No início do livro “Bilhões e Bilhões” (1998), Carl Sagan deixa claro que nossa mente não foi construída pela evolução para previsões sobre nossa vida além de nosso tempo de existência. Compreender eventos de milhões e bilhões de anos é uma novidade para nós.
Hoje em dia temos certezas muito similares as de alguns pensadores da Grécia pré-socrática como Heráclito de Éfeso (540-470 a.C) que já bem sabia: “não entramos no mesmo rio duas vezes!”. Após mais de mil anos de ensino de Platão/ Aristóteles, onde as coisas do mundo possuíam essências fixas e imutáveis, encontramo-nos aqui na “virada do jogo”, tremendo no íntimo por saber da revelação dessa verdade absurda. Confirmado pela ciência nos séculos XIX e XX: o planeta Terra mudou e continuará mudando!!!
Mesmo se conseguissemos parar todas as emissões de gases, reciclássemos em larga escala nossos dejetos e parássemos completamente com a devastação das florestas tropicais e outros ecossistemas... a Terra ainda assim será muito diferente do que vemos hoje.
Tudo o que você conhece perecerá, tudo irá se transformar em algo completamente diferente!
Você saberia responder qual a maior força de modificações por trás disso? Vulcões, clima, tempestades solares, meteoros? Nenhuma dessas forças é tal como a Deriva dos Continentes através da Tectônica de Placas. Na verdade, muitos desses eventos (vulcanismo, terremotos e mudanças no clima) são causados pela “simples” e contínua dinâmica da Tectônica de Placas, exceto as forças cósmicas como meteoros e tempestades solares.
Compreenda o que é “simples assim”: nosso continente Sul Americano está se deslocando 18 cm por ano rumo ao Oeste... e em 50 milhões de anos estaremos onde hoje é localizada a Oceania! Estaremos separados de todos os outros continentes e... Seremos a Austrália do futuro!
Parêntese 1: Quando falamos em mudanças de clima e qualquer outro evento classificado por nós como “catastrófico” isso está relacionado apenas à vida de animais e plantas. Já as bactérias são criaturas que beiram à perfeição da matéria viva! Além de eternas em vida, até hoje dominam, moldam este planeta e não estão ameaçadas por qualquer um dos eventos que possam nos exterminar. As bactérias poderão ter um fim definitivo apenas há bilhões de anos à frente com a morte do Sol e devastação completa deste sistema solar. Caso um meteoro grande o suficiente parta esse planeta em pedaços, até no interior de cometas as bactérias poderão sobreviver. Nós não!
Parêntese 2: Lembram-se do post “Os esporos reprodutivos de Gaia”? Nele escrevi sobre a hipótese Gaia, a qual se correta, podemos, de forma otimista, interpretar a existência humana com o objetivo para a reprodução da Terra através do espaço. Mas, se não formos nós, seres conscientes, os esporos reprodutivos da Terra, muito provavelmente poderão ser bactérias... Talvez de forma mais eficiente ainda do que nós!
Parêntese 3: O parágrafo passado é a base do que se compreende como hipótese da Panspermia, onde as sementes da vida estão espalhadas pelo universo na forma de bactérias, ou algo mais simples como vírus, ou coacervados de RNA, ou seja lá como forem esses “cosmozoários”!
Voltemos para as mudanças naturais de nosso planeta. Se tudo continuar como é hoje, sem a queda de um meteoro, ou o máximo solar com buracos na camada de ozônio, veja abaixo o mapa de nosso mundo em 250 milhões de anos no futuro, apenas considerando o resultado da Deriva Continental:
Isso mesmo!!! Uma nova Pangea será formada!!! É o eterno retorno da Gaia Ciência de Nietzsche.
Essa é uma previsão científica otimista e tema do livro “After Man: A Zoology of the Future (Depois do Homem: Uma Zoologia do Futuro)" publicado em 1981 pelo paleontólogo escocês Dougal Dixon. Foi também a idéia máxima para o famoso documentário da BBC “The Future is Wild” (no Brasil exibido pelo Discovery Channel com o título “Futuro Selvagem”).
Sabendo de tudo isso, confesso que eu fico sempre surpreso com a ingenuidade de alguns de meus alunos na disciplina de Evolução. Todos me ouvem falar repetidamente que o processo da evolução dos sistemas biológicos corresponde à “mudanças no tempo através de descendência”... Para sobreviver às mudanças do planeta nós também temos que mudar, ou deixamos de existir. Entretanto, parte de meus alunos acha que a simples defesa e conservação do atual meio ambiente irá mantê-lo inalterado por tempo indeterminado. Por tudo isso, explico, primeiro, conservar os recursos naturais é uma atitude para nossa sobrevivência, prioritariamente! Segundo, isso não quer dizer de forma alguma conservar um bem imutável. Novamente, não se esqueçam da sabedoria grega: “tudo muda, tudo se transforma”.
Outros alunos meus também acham que a evolução tem como único mecanismo de ação a seleção natural e interpretam esse mecanismo apenas como uma competição inter e intra-específica (a popular natureza com "dentes e garras rubras de sangue"). Ignoram além disso quase completamente o papel do acaso e as forças ambientais maiores que desafiam a sobrevivência dos sistemas biológicos de forma muito mais perigosa do que vemos em nosso tempo presente, ainda em relativo equilíbrio.
Essa fase de relativo equilíbrio antes das grandes mudanças também já foi proposta em termos do “Equilíbrio Pontuado” pelos paleontólogos norte-americanos Niles Eldredge e Stephen Jay Gould (1972). O registro dos fósseis (com o desaparecimento repentino de vários grupos e surgimento de outros), antes considerado apenas fruto do acaso, foi reinterpretado por Eldredge e Gould como verdadeiro para explicar as grandes mudanças de fauna e flora. Parece que, com regularidade, ocorrem grandes modificações na Terra, as quais são muito rápidas e inicialmente hostis as formas de vida. Resultado: extinção em massa! Os sobreviventes dessas mudanças radicias então multiplicam-se em linhagens descendentes mediante a um novo período de equilíbrio. Em palavras mais comuns, “depois da tempestade, vem a bonança”!!! Ou como na música da banda de norueguesa A-ha: “Out Blue Comes Green” (expressão que significa algo como “da tristeza surge a esperança”).
O mundo como conhecemos irá mudar completamente! É fato! Mas nós Sobreviveremos? Antes de responder a essa pergunta compreendam que nossa espécie só possui um milhão de anos de idade. Isso não é nada em termos da vida das espécies neste planeta! Por exemplo, artrópodes como os trilobitas viveram mais de 300 milhões de anos antes de serem completamente extintos! Por isso, quando falamos de sobrevivência humana, os dois posts anteriores nos preocupam muito mais do que os eventos catastróficos naturais. Já está mais do que alardeado em todas as línguas e países: nós podemos nos exterminar!!! Nem saímos de nossa infância enquanto espécie... Tão orgulhosos e cheios de vaidades do que somos! Criamos deuses à nossa imagem e semelhança, linguagem, computadores, biotecnologia e... vamos cometer suicídio pela destruição dos recursos naturais e modificação dos ecossistemas que nos mantem vivos?
Por quê? Para manter os padrões de consumo de uma minoria egoísta?! Olha como voltamos para o post anterior? Notaram agora como o cuidado ambiental e os modelos sócio-econômicos que adotamos são importantes para nossa sobrevivência?
Então, respondendo a pergunta inicial sobre nossa sobrevivência... Sim, se não nos destruirmos antes, muito provavelmente sobreviveremos em mundos climáticos diferentes dos de hoje resultantes da Deriva Continental.
Como sempre há uma conjunção adversativa, segue o “Todavia”... há ainda que se considerar fatores completamente resultantes do acaso. No best seller mundial “Apocalipse 2012” (2007), escrito pelo jornalista norte americano Lawrence E. Joseph, é apresentada a possibilidade do fim de nossa vida como compreendemos hoje por diversos fatores naturais envolvendo principalmente nosso Sol e o espaço. Se realmente a hipótese do máximo solar e da entrada de nosso sistema planetário em uma zona galáctica de maior energia (com um crescente fluxo de matéria que aumenta a atividade do Sol)... então haverá mais instabilidade ambiental do que apenas a deriva continental. Pior, isso está sendo apontado para agora! Daqui a três anos segundo o Calendário Maia... É uma nova sensação fictícia do apocalipse e agora com filme de magníficos efeitos especiais mostrando a destruição de tudo!!!
Isso não passa de sensacionalismo causado por descobertas e divulgação científica. Vocês já se esqueceram de filmes como "Armaggedon" e "Impacto Profundo"?! A ameaça de nosso fim na ficção cinematográfica semelhante à hipótese de extinção dos dinossauros foi moda alguns anos atrás. Em todo caso... sempre saímos bem nessas histórias!!! Na vida real... talvez não tivéssemos a mesma sorte.
A principal força de sobrevivência humana constitui nossa inteligência e versatilidade para usá-la em diversos ecossistemas. Das geleiras até as ilhas vulcânicas... Sobrevivemos até agora! Em mundos bem diferentes deste atual feito de fibra óptica, plástico e virtualidade.
Apenas não esqueçam, quer gostemos ou não disso... Tudo mudará para sempre!!!
Ontem a terra tremeu no Japão...
Links:
http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/1755
http://www.sivatherium.h12.ru/library/Dixon/main_en.htm
http://www.sivatherium.h12.ru/library/Dixon/ch_02_en.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tect%C3%B3nica_de_placas
http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Future_Is_Wild
http://pt.wikipedia.org/wiki/After_Man:_A_Zoology_of_the_Future
http://pt.wikipedia.org/wiki/Extin%C3%A7%C3%A3o_K-T
http://pt.wikipedia.org/wiki/Equil%C3%ADbrio_pontuado
4 comentários:
Enquanto isso...
Ontem, 29 de setembro de 2009:
Tsunamis deixam pelo menos cem mortos em ilhas do Pacífico Sul.
http://noticias.br.msn.com/mundo/artigo-bbc.aspx?cp-documentid=21983752
Segue a saga da Sobrevivência Humana!
Como sempre, excelentes posts! Aulas virtuais e mto úteis de biologia e sobrevivência onto-filogênica! E o termo “cosmozoários”... sensacional! Atualizando-me em biologia no seu blog, por outro lado, tenho graduação em filosofia, e agradeço mto por citar Heráclito: luz antecipada q vem da Grécia Antiga nos auxiliar na compreenssão do q é dinâmico, mesmo sem o parecer! Qdo puder, visite uns posts didáticos q escrevi sobre ele em...
Olá Maria!
Em minha época de graduação eu vivia na Biblioteca Central na UFPB justamente na parte de filosofia. Eu já havia sido "iniciado" ao ler Nietzsche e procurava por mais.
Peguei o livro "Fragmentos" de Heráclito... Era completo, quer dizer, mesmo sendo em pedaços. Tinha os aforismos originais em grego, a tradução ao lado em português e comentários para contextualizá-los e até interpretá-los. Só não lembro o nome do organizador da obra.
Obrigado pelo comentário! Este blog é bastante intimista, reflete as discussões que eu não tenho no dia a dia. Coisas de que quero falar com ou sem profundidade. Aqui passei a encontrar pessoas como você, algo muito legal possibilitado pela tecnologia e movido por nossa curiosidade humana ("pleistocênica" - sempre repito isso).
Eu gostei muito de seu blog e já estou por lá como seguidor!
Um grande abraço e um ótimo final de semana para você!
HERÁCLITO e o CIBERESPAÇO: caro BLOG do Macaco Alfa, este post de Filosofia foi escrito especialmente p vc, seus alunos de Biologia e visitantes virtuais. Divirtam-se... http://tsistemica.blogspot.com/2010/02/heraclito-aforismo-do-acesso-ao-blog.html
Postar um comentário