O sentido da vida? Já escrevi aqui em um de meus momentos mais inspirados:
[clique] O coleóptero de Kafka, a vida, a morte e a beleza da matéria
Desde então, eu não mudei de opinião, tão pouco li algo novo a respeito. Para mim a vida continua objetivando ela própria e não possui compromisso algum com nossos desejos individuais.
Entre os efeitos emergentes de nossa mente, o senso de estética autapomórfico nos torna humanos de verdade. Na arte, música e literatura estaremos sempre exercendo aquilo que chamamos “espírito humano” e para além de nossa espécie, pintamos, cantamos escrevemos poemas de amor pela Terra e todos os seres vivos.
Há ainda outro empreendimento humano que possui o mesmo valor: a ciência.
Retratando isso em uma visão romântica: ciência é o caminho da verdade, mas nunca adotando uma única voz como dogma. Não seguimos Charles Darwin, ou acendemos velas em louvor a Albert Einstein! Concordamos com algumas de suas propostas que foram comprovadas por fatos. Algumas, porque eles não acertaram tudo aquilo que proporam. Seus maiores erros foram a pangênese (Darwin) e a constante cosmológica (Einstein). Além dos erros, as vidas desses homens não são modelos para adotarmos como se fossem gurus religiosos. O caminho da ciência segue pelos erros e acertos, entre misantropos e filantropos.
A ciência compreende a única forma para podermos compreender o presente, passado e imaginar (*) nosso futuro. “Pé no chão”, sem delírios nefelibatas e quando falamos sobre algo é bom levar a sério. Por exemplo, o aquecimento global atual é fato comprovado! Pergunte aos ursos polares se você tem alguma dúvida disso.
Nossa conversa a respeito da Sobrevivência Humana é centrada na ciência e seus fatos: (1) petróleo não é recurso renovável, (2) nossa natureza humana é cooperativa (somos primatas sociais altruístas recíprocos), (3) os continentes estão se movendo por causa da dinâmica da Tectônica de Placas, (4) temos centenas de inimigos biológicos e (5) somos todos animais com limites adaptativos para a sobrevivência, ponto.
Estudando o passado, sabemos que houveram cinco grandes eventos de extinção em massa: (1) a ordoviciana (1.435 milhões de anos), (2) a devoniana (2.345 milhões de anos), (3) a permiana (250 milhões de anos), (4) a triássica (195 milhões de anos) e (5) a cretácea (65 milhões de anos). Em "Consiliência" (1999) o entomologista americano Edward O. Wilson considerou nossa ação no mundo como o sexto evento de extinção em massa das espécies biológicas. Nós humanos somos piores que meteoros, vulcões, terremotos, agentes infecciosos, deriva continental... piores do que tempestades solares. O sexto evento de extinção em massa agora no Holoceno... O agente responsável? Um macaco nu e arrogante do Pleistoceno.
Se toda essa destruição estivesse trazendo bem estar para nós, talvez fosse difícil falar disso para as pessoas comuns. A história das civilizações grandiosas que encontraram seu colapso nos dá profundo medo e toda a miséria que vemos em nossa volta molda nosso presente, eclipsa nosso futuro.
Vamos unir as duas coisas agora: mitos do fim do mundo + linguagem científica = previsões pseudocientíficas equivalentes à astrologia!
Há previsões seguras na ciência para a sobrevivência humana? Todo cenário de previsão é especulativo, vejam como exemplo as previsões diárias do tempo. A Metereologia é uma ciência que estuda sistemas caóticos dinâmicos (ver Lorenz, 1996: 99-137). Apesar de todos os avanços (***) não dá para fazer previsões razoáveis em 24 horas. Pessoas sofrem com tempestades, furacões, tsunamis e terremotos... completamente inesperados!!! Se não conseguimos ainda prever eventos assim, estamos muito mais longe do poder desejado de controlar o clima. Apesar da pompa de “macaco tecnológico”, continuamos tão frágeis às mudanças climáticas quanto qualquer outro ser vivo.
Você pode pensar que é uma tremenda bobagem esse desejo humano de tentar entender e controlar as coisas. Afinal, se não conseguimos fazer isso com computadores e nanotecnologia nenhuma outra forma de vida poderá.
Engano seu!!!
As bactérias estão "seguras de si mesmas", não sofrem qualquer ameaça de extinção, são eternas de verdade e controlam todo o planeta!!! O oxigênio e a camada de ozônio, os solos, os ciclos da matéria, a base primária de todos os ecossistemas... são controlados por elas!!! Nossa! Parece o conto de H. G. Wells, Guerra dos Mundos, não é?! Só que aqui nós nos comportamos como os invasores!!!
Penso agora palavras positivas para encerrar esta série de textos. Eu procurei em meus livros, revistas e aqui na internet, mas sempre estamos escrevendo e falando sobre o fim de nossos dias, seja na religião, ou mesmo na ciência.
Os dados científicos que temos apontam para uma verdade: não há eternidade para seres pluricelulares (animais e plantas) (****). Sempre há a extinção por um evento natural, ou a transformação de uma espécie ancestral em seus descendentes. Nada ficou como estava, nada permanece o mesmo. Há 3,5 bilhões de anos a matéria se manifestou neste planeta de forma incomum... Surgiu o que compreendemos como vida. Os seres mais perfeitos até hoje são os replicantes moleculares iniciais: as bactérias, as infinitas formas de grande beleza.
Nós surgimos na história evolutiva da feiúra e imperfeição dos experimentos dos sistemas biológicos ditos "complexos". Nossa função?! Se não é preservar e reproduzir a Biota Mãe (Gaia), então seremos apenas "contadores de histórias".
Ainda bem que temos a Arte! Sem ela não valeria a pena viver!
A sobrevivência humana está para além da ciência!
(*) Imaginar é diferente de predizer.
(**) O correto é falar em “defesa do meio ambiente”. Salvar a Ecologia faz tanto sentido quanto salvar outros ramos profissionais das Ciências Biológicas como Zoologia, Genética, Embriologia, etc., etc.
(***) Chover no molhado: no mundo inteiro investimos muito mais em armas do que em pesquisa científica.
(****) Talvez as hidras e os Myxozoa sejam exceção à regra e eternos.
Referências
Azevedo, A., [1895] 2007. Demônios. Editora Martins Fontes.
Sokal, AD. e Bricmont, J., 1999. Imposturas intelectuais. Editora Record.
Lorenz, EN., 1996. A essência do caos. Editora UnB.
Wilson, EO., 1999. Consiliência: a unidade do conhecimento. Editora Campus.
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