domingo, 19 de abril de 2009

Drauzio Varella: EXCELENTE!

Não deixe de ler neste Blog: [click] Discriminados: Ateus

sábado, 18 de abril de 2009

Uma Aula de Zoologia por Antônio Nóbrega


SENSACIONAL!!!

Crônicas universitárias: atualidades

Universidade Regional do Cariri - URCA/ Campus do Pimenta - Crato/ CE

Aqui encerro as Crônicas Universitárias com minhas atualidades na Universidade Regional do Cariri - URCA/ CE. Quando pensei nos textos anteriores, além da nostalgia, queria na verdade escrever este para meus alunos. O conjunto inteiro compõe uma apresentação de mim mesmo que indicarei para meus alunos lerem sem ficar tocando nesses assuntos em sala de aula.

Igual a um filme, planejei as etapas anteriores dessa série de textos para chegar neste ponto, o clímax.

O que significa ser um professor universitário?
Em 1998 a CAPES exigiu que seus bolsistas realizassem Estágio Docência, seis meses para mestrado, 12 meses para doutorado. Acredito que essa foi uma das melhores medidas tomadas pela CAPES que presenciei enquanto aluno de pós-graduação. Eu cursei bacharelado e meu único contato com a didática estava restrito à disciplina Metodologia do Ensino Superior cursada no mestrado. Um ano e meio de Estágio Docência (seis meses em 1998 e todo o ano de 2000) foi uma experiência preparatória muito importante para exercer minha profissão anos mais tarde na URCA.

Ensino, pesquisa e extensão são áreas de atividades dos professores universitários. Em seis anos de trabalho estive envolvido com cada uma delas: (1) lecionar é obrigatório (ministro aulas da graduação ao mestrado), (2) pesquisar, como vocês leram anteriormente, está no centro de meu interesse profissional e (3) um pouco de extensão em 2005, quando participei como coordenador e professor no projeto Fazer Ciência – MEC/ URCA para capacitação de professores do ensino médio em aulas práticas laboratoriais.

Oriento alunos na Iniciação Científica e no Mestrado da URCA. Devido à minha história e características próprias, muitos daqueles que passaram e estão ao meu lado no Laboratório de Zoologia eu os considero como amigos e companheiros de trabalho. Todos são bolsistas (FUNCAP, CNPq e CAPES), inclusive eu!!! Tenho bolsa, agora de produtividade da FUNCAP no programa de Bolsas de Produtividade em Pesquisa e estímulo à Interiorização – BPI (processo BPI-0112-2.05/08).

Em 2005 aproveitei a aprovação de meu primeiro projeto de pesquisa na FUNCAP (Programa Primeiros Projetos – PPP) para realizar estágio de pós-doutorado na UFRN com supervisão da Professora Eliza Maria Xavier Freire (conhecida carinhosamente como Juju). Foi algo muito ambicioso para mim, além dos artigos (foram seis em um ano), cheguei a me inscrever no concurso público na própria UFRN, mas não fui realizar as provas. Havia muito em jogo para mim. Caso conseguisse passar, provavelmente iria me divorciar e afastar-me, pela distância geográfica, de meu filho, essas coisas. Como muito bem comentou meu amigo Emmerson no post “
Crônicas universitárias: mestrado”, nós não somos movidos apenas por um amor puro e platônico à ciência. Características sociais, econômicas, culturais e emocionais estão sempre no cerne de tudo.

Apesar de ser jovem na universidade, diversas vezes assumi cargos administrativos, fui Sub-Chefe (2005) e depois Chefe do Departamento (2006) e até o início deste ano ocupava o cargo de Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa (2007-2009). Tentei ser o meu melhor nessas funções, mesmo que na resolução de conflitos e problemas administrativos nem sempre temos que dizer “sim” para as demandas e urgências do dia a dia.

Esses tempos de administração foram muito desgastantes para mim, especialmente nesses dois últimos anos (2007- 2009). Afastei-me quase por completo do Laboratório e os dias de despachos, análises de processos e uma quase infinidade de reuniões não eram atividades que possam substituir meu amor à ciência e afins.

Mesmo com pedidos do atual reitor para que eu permanecesse, resolvi não mais ocupar atribuições administrativas por um bom tempo. Agradeci em carta a ele, à minha secretária Angélica e todos os professores que estiveram ao meu lado na pró-reitoria. Sinto orgulho dos projetos aprovados, Projeto Estruturante BIOFAR CE - FINEP/FUNCAP - Edital CONV ESTADOS -MCT/ FINEP Ação Transversal – PROJ EST 12/2007 convênio nº 01.08.0471.00 e Projeto de Estruturação do Laboratório Multi-Usuário de Bioprospecção de Produtos Naturais - Edital MCT/ FINEP/ CT-INFRA – PROINFRA – 01/2007 convênio nº 01.08.0430.00, e ações realizadas nesse período: implantação do Mestrado em Bioprospecção Molecular, avaliação e implantação de bolsas de IC da URCA, FUNCAP e CNPq, as duas Semanas de Ciências da URCA, a criação do Centro de Documentação Histórica e do Laboratório de Pesquisa em História, a pós-graduação Lato e Stricto sensu.

No total, ainda me recupero dessa entrega de mim mesmo por entre esses dias de administração.

Meus dias de paz, meus dias de luta!!!

A universidade pública brasileira
Ser funcionário público tem a grande vantagem da estabilidade no emprego. Entretanto, como em qualquer outra função, ou emprego, há diferenças entre instituições, regiões e regimes administrativos (se federal, estadual, ou municipal). A comparação pode não ser boa, mas é a forma metafórica mais atual que tenho usado. Por exemplo, Moré é um excelente jogador de futebol. Ele é o atacante do Icasa, time que torço aqui no Cariri. O Icasa passa por dificuldades financeiras e temo como torcedor a possível perda dos melhores jogadores para outros times... “Brasil afora”.

A maioria dos maiores times de futebol está nas regiões sudeste e sul do país. Essa geografia reflete não apenas esporte, mas a política e economia brasileira. Mesmo assim, vemos a perda de nossos melhores jogadores do Brasil para times europeus, que pagam muito melhor do que nós... “Mundo afora”.

As universidades públicas brasileiras são muito parecidas com esse quadro do futebol. Nossos melhores professores podem iniciar suas carreiras em instituições comparativamente pequenas, depois migrar através de concurso público para maiores... “Brasil e Mundo afora”.

Estou no centro da região nordeste, a proximidade do Crato com a Chapada do Araripe dá à cidade um clima ameno na maioria dos meses do ano. Da mesma forma, são as mais de 100 fontes de água da Chapada do Araripe responsáveis pela riqueza hídrica da chamada região do cariri cearense.
Enganem-se quem quiser, mas lido com preconceitos o tempo todo. Sofri discriminação por ser paraibano, imaginem?! Sou nordestino, mas aqui no interior do Ceará já me chamaram até de “alienígena”, semelhante ao termo “alien” que os latinos recebem pejorativamente nos Estados Unidos. Pior foi escutar e ler frases como “a URCA precisa de professor e não doutor”. É esdrúxulo demais, às avessas demais, mas é real. Nunca havia visto algo assim antes!!!

Fora da URCA, em outras universidades, sofri discriminação por ser professor de uma IES pequena e desconhecida do interior nordestino. Bem, não posso escrever o nome do professor aqui, mas ouvi até frases como “Lugares como esse que você trabalha são regidos por mediocridade, é como uma infecção, cuidado com o contágio!” Além disso, já cansei de falar do conjunto de características desagradáveis que algumas pessoas listaram para mim por trabalhar onde trabalho: “você terá os priores alunos, as piores condições de trabalho, as ações administrativas podem ser negativas ou mesmo prejudiciais quando mal conduzidas e a política local e as universidades estaduais estão em íntimo relacionamento”.

Nada animador, não é?!

Eu e vários outros professores temos lutado contra todas essas formas de preconceito. Claro, ainda bem que vem de uma minoria, pois hoje tenho grandes amigos cearenses aqui no cariri.

Tenho feito o dever de casa, por exemplo, faço questão de envolver todos os meus orientados na pesquisa com produção científica em ótimos periódicos nacionais (pe., Brazilian Journal of Biology) e internacionais (pe., BMC - Complementary and Alternative Medicine). Em seis anos orientei alunos brilhantes de vários municípios do Ceará (Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Iguatu e Senador Pompeu), quebrando a regra de qualquer preconceituoso contra essas pessoas que vivem no interior do nordeste. Se eu tenho uma história clássica de menino pobre que “chegou lá”, imagino as histórias maravilhosas e emocionantes que meus alunos contarão de suas vidas em futuro muito próximo.

Na URCA perdemos professores importantes recentemente. A grande quantidade de concursos pelo programa Reuni/ MEC e criações de novas IES federais não foram seguidas por uma resposta da URCA com realização de concurso para repor as perdas e ela mesma realizar seu crescimento natural. Em outras palavras, diminuímos nesses últimos anos e ficamos mais frágeis.

Aos meus companheiros que continuam formando o time da URCA sei muito bem que nada disso é fácil e exige de nós muita dedicação e até renúncias pessoais. Há uma passagem no livro “O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei (Tolkien, JRR., 1994, vol. 3, p. 457 – Editora Martins Fontes)” que talvez resuma muito bem nossa persistência e amor à URCA:

FRODO – “Muitas vezes precisa ser assim, Sam, quando as coisas correm perigo: alguém tem de desistir delas, perdê-las, para que outros possam tê-las”.

Acho que é assim que me vejo hoje em meu trabalho.

O Icasa para mim é o melhor time de futebol do cariri cearense. Torço para que ele se torne tão forte quanto outros times, a exemplo dos tradicionais aqui mesmo do nordeste (pe., Bahia/ BA e o Sport/ PE). Eu tenho o mesmo sentimento para URCA diante de outras fortes IES brasileiras.

Passado, presente e futuro: mensagem aos meus alunos e orientados
Em 2004 vários cursos da URCA aumentaram o número de alunos que ingressam por semestre. As Ciências Biológicas passaram de 60 (30 manhã/ 30 noite) para 80 alunos (40 manhã/ 40 noite). O total por ano hoje é de 160 alunos na Biologia e esse aumento não foi seguido pela melhoria em infra-estrutura, tão pouco do aumento no número de professores.

Meu problema pessoal é que eu sei quem são meus alunos, pois acompanho o resultado dos perfis sociais nos manuais dos vestibulares. O aluno médio da URCA é de família pobre, assim como eu! Contudo, a diferença é que passei para uma universidade dominada pela “classe média”. Na URCA um aluno com recursos assim é exceção!!!

São similares de minha realidade multiplicados às centenas de vezes!!! Eu tenho orgulho de ser professor dos filhos desse meu povo:

Eu estou sempre com o máximo de bolsistas permitido. Hoje em dia são três de Iniciação Científica e três de Mestrado, ou seja, apenas seis alunos. Entre centenas e centenas, só posso contribuir na formação de seis pessoas. Isso não é por semestre, porque tanto os de Iniciação, quanto os de Mestrado ficam em média dois anos sob minha orientação. Bem, mas se houvesse um maior número de professores na Biologia que atendesse pelo menos a 1/6 dos alunos de nosso curso, seria um número significante. Hoje dos aproximadamente 640 alunos matriculados, cerca de 23 são bolsistas (apenas 3,6%).

Conseguir uma bolsa de IC (PIBIC/ CNPq, FUNCAP e URCA) é muito concorrido na URCA, por isso, aconselho sempre os alunos a fazerem suas escolhas: (1) pelas grandes áreas que lhe tiverem afinidade e vocação (ecologia, zoologia, botânica, paleontologia, bioquímica, química orgânica e farmacologia), (2) escolherem professores com afinidade de personalidade (não adianta de nada tentar iniciar um estágio em pé de guerra ideológico com seu orientador, exemplo, criacionismo vs. evolucionismo) e (3) ter paciência, persistência e até humildade pelos seus objetivos.

Por outro lado, o sistema é falho, tal qual são as pessoas... afinal, somos todos humanos demasiado humanos. Por exemplo, selecionei cada um de meus orientados, mas isso não quer dizer que acertei sempre. Sei que é difícil ver um aluno muito bom sem oportunidade e outro mediano com tudo em suas mãos. Martin, meu orientador, certa vez me falou que deixava a seleção natural das coisas seguir seu rumo espontâneo. Segundo ele, os melhores alunos sempre conseguem encontrar um caminho, sempre vencem!


De minha parte, ao estilo de Capiba, eu digo assim: não desista, mesmo diante de tantas dificuldades, “nós somos madeira de lei que cupim não rói”:


As coisas devem melhorar, sempre penso positivamente. O passado me moldou para agir agora e trabalhar por um futuro muito brilhante. Meu passado de menino na UFPB, o futuro dos novos professores universitários que ajudei a formar aqui no meu amado cariri.

As crônicas continuam... em cada um de vocês!!!

Obs.: Vem aí a série O SIGNIFICADO DAS COISAS... Aguardem!!!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Crônicas universitárias: doutorado

Vocês notaram o que une os dois posts anteriores?

Bolsas de estudo!!!

A universidade pública brasileira é gratuita, mas possui um preço. Nossos impostos financiam todo o custeio, contudo a vida estudantil dentro delas é muito difícil para quem é pobre. Além da dificuldade de conseguir uma vaga e a competição desigual, há ainda livros (ou fotocópias deles), transporte e alimentação.

Bolsa, bolsa, bolsa... CNPq, ou CAPES... Vivi meus dias como aluno na universidade de 1994 até 2003 graças a elas. Não trabalhei, não recolhi INSS... quase dez anos de bolsas!!!

Cheguei ao doutorado, mas sem uma bolsa seria impossível cursar o mesmo. Essa é uma realidade atual de nossas universidades. Sei que é a história similar a muitos outros jovens universitários da década de 1990 e continua em curso nos dias de hoje.

O doutorado na UFPB começou com um atraso na implantação das bolsas. Estava sem dinheiro desde outubro de 1999. Já era abril de 2000 e nada, veio maio, junho... Lá estávamos novamente tentando reunir a APG/ UFPB e muito preocupados com a CAPES.

O trabalho no Laboratório de Filogenia era teórico, mas poucos sabem que corri atrás dos animais que estudava. Na graduação pedi autorização para dissecar répteis da coleção... Foi negado! Então abri todos os répteis da coleção didática e no pulmão de um espécime de Amphisbaena alba (cobra-de-duas-cabeças) lá estavam eles, três pentastomídeos ao vivo e a cores. Corri e chamei Martin para ver, ele foi até à Lupa e falou: “Legal!” Voltou para a catalogação de sua extensa bibliografia... e eu fiquei decepcionado. Foi um esforço grande, um aprendizado de anatomia e cortes de dissecação, sem contar que fiz tudo sozinho e escondido para não ser pego pelo Chefe do Departamento, ou Diretor de Centro... rsrsrs!!! Ali em minha frente estavam os primeiros pentastomídeos do nordeste brasileiro. Apenas isso já merecia uma publicação. Todavia, após o término de minha monografia, joguei os espécimes no ralo da pia em desapontamento com a falta de interesse de meu orientador.

No mestrado e doutorado também fui a campo em busca de meus objetos de pesquisa. Conversei com Martin para saber quais as melhores formas de coleta, afinal, ele foi um grande carcinologista de campo, percorreu toda a costa do nordeste e coletou na maioria das praias do Brasil. Bem, não dava para fazer o mesmo com poliquetos, porque meus objetivos eram outros. Todavia, preparei o material para coleta, pedi ajuda ao meu amigo Moabe e fomos para praia coletar poliquetos. Voltei com eunicídeos e nereidídeos para o laboratório. Depois disso, passei a organizar e procurar na coleção de invertebrados todos os poliquetos tombados por lá. Os espécimes foram coletados por Martin, ou no decorrer do projeto Algas na Costa da Paraíba. Os poliquetos encouraçados, também chamados escamosos, eram o alvo de minha tese, por isso, tratei de separá-los, organizá-los e identificá-los.

Nessa época recebi reforço, Martin designou Adrianne Barros como bolsista PIBIC para realizar o trabalho de organização e identificação dos anelídeos. Adorei as tardes na lupa ao lado de Adrianne. Ela era tão competente que foi convidada pela professora Ierecê Lucena para integrar a pesquisa com Cavalos Marinhos. Na saída, Adrianne indicou Isabelle Costa Wanderley para seu lugar. A professora Carmen Alonso assumiu a coordenação e organização da Coleção de Invertebrados Marinhos e Isabelle passou a dedicar-se mais aos poliquetos tubícolas. Com isso, voltei a ficar só aos devaneios com os poliquetos encouraçados.

Decidi que precisava de um pouco mais de campo em minha vida... Encontrar a natureza selvagem que há muito me fascinava, que há muito amo de todo o meu coração. Fui voluntário para ajudar Alexandre nas suas coletas de Cupins. Viajei para Pico do Jabre - Teixeira/ PB, Brejo dos Cavalos, Caruaru/ PE e Pedra Talhada, Quebrangulo/ AL. Voltando desse último, passei no Banco do Brasil e vi que a bolsa havia sido depositada, três meses!

Na graduação e parte do mestrado, almoçava no Restaurante Universitário. As filas eram tão grandes que isso constituía a maior parte de nosso tempo de bate-papo. Do meio para o fim do mestrado, instituímos nossa happy hour (que começava na hora do almoço e se prolongava madrugada adentro). No doutorado começou a hora do café, normalmente no Laboratório de Entomologia e hoje em dia está sendo realizada na Herpetologia.

Certo dia, Alexandre me apresentou a uma miniatura do Chitãozinho e Chororó. O corte de cabelo era idêntico, curto nos lados, espetado em cima, longo atrás. Seu nome? Carlos Emmerson (atual professor da UFPA) fazia doutoramento em Química e era metido a ser jogador de xadrez, mesmo não sendo lá grande expert nisso. Alexandre tinha trazido o xadrez dele e como não podia deixá-lo no Lab. de Entomologia, ficou na minha sala de estudo. Tínhamos partidas pela manhã e à tarde. Montamos regras e fizemos nosso torneio. Eu, Alexandre, Quick e Emmerson. Nos anos de meu doutoramento os três primeiros foram cada um campeão, Emmerson ganhou algumas vezes, mas não chegou lá e perturbou muito em todos os campeonatos. Quem já perdeu uma partida para ele, conhece o som de sua gargalhada e os dias de deboche que se seguem, é um adversário terrível... rsrsrs!!!

Adivinhem quem Alexandre convenceu a participar da representação dos estudantes de doutorado?... Pois é, eu novamente!!! Lá fui de volta para as reuniões administrativas (da graduação ao doutorado, vivi enfurnado nesse pequeno mundo)... A política estava lá em minha frente e fazia parte dela, mesmo falando para todos que eu era avesso a isso.

Eu e Alexandre conversávamos muito sobre o que deveríamos fazer em nosso doutorado. Antes do doutorado em Zoologia ser implantado, todos os alunos da Biologia da UFPB tinham uma característica de serem um tipo de “retirante acadêmico”. Ou seja, buscar doutoramento em outros estados, sobretudo na USP e UFSCar. Não eram todos que conseguiam, tão pouco havia a opção de permanecer em João Pessoa-PB e dar continuidade a sua pesquisa.

Fazer doutorado em casa foi muito confortável para mim. Deve ter sido da mesma forma para meu orientador que fez sua graduação até o doutorado na USP. Soma-se a isso o aproveitamento de créditos, ou seja, poderíamos aproveitar todos os créditos cursados no mestrado e em um ano estávamos livres de todas as disciplinas. A idéia minha e de Alexandre era aproveitar essa comodidade, tempo livre para tese e produzirmos tanto em qualidade, quanto em quantidade.

Alexandre conseguiu cumprir sua meta, ficou freguês da revista Sociobiology de tanto publicar por lá. Eu, ...bem, pelo que você leu no post anterior, estava trabalhando ainda no artigo do mestrado, incorporando as críticas realizadas e tornando o texto cada vez mais denso... Fiquei abatido pelos meus primeiros “nãos”, mas faz parte do aprendizado para produção científica. Nem todos nossos trabalhos são aceitos de imediato, alguns são recusados, outros chegam a ser abandonados nas gavetas das mesas e memórias de nossos computadores.

Fiquei surpreso com a notificação da Editora Holos de que o nosso livro havia se esgotado e eles queriam que revisássemos o texto para uma nova edição. Fizemos isso em 2001 e a segunda edição saiu ainda neste mesmo ano. Para o objetivo e texto despretensioso, vendemos muito Brasil afora. Martin também cuidou de divulgar cada uma de nossas publicações enviando uma cópia para pesquisadores envolvidos na problemática da filogenia dos Metazoa.

Eduardo Medeiros (atual professor da UFPB), aquele menino que conheci em meu mestrado, passou a ser um de nossos maiores amigos. Estava sempre por lá pelos corredores da Biologia. Coisa estranha para um estudante de Física. Certo dia, em uma de nossas conversas em mesa de bar, eu, Eduardo e Alexandre decidimos montar uma banda de heavy metal.

Pronto, a partir de então passei a ter as tardes mais felizes de toda a minha vida. Íamos ao supermercado, comprávamos caipirinha em pó, vodka e seguíamos para a casa de Eduardo. Eram tardes de músicas muito toscas, punk rock hardcore!!! Compomos músicas como Bolsista do CNPq e Chique-Chique Mandacaru. Depois de alguns meses convidamos uma grande amiga minha Helena Peixoto, para assumir os vocais. Eduardo trouxe seu amigo mestrando em Física, Lincoln e seu baixo. Depois disso, passamos a ensaiar no estúdio do Júnior, Bairro dos Bancários. Mudamos de nome várias vezes, primeiro Luna, depois Rusty Moon, Trail Of Trolls e ficamos até o fim com Death Garden (nome mais lindo, digo de passagem). Brigamos muito e nem chegamos a gravar uma demo tape... Apesar disso, foram dias muito agradáveis e guardo com carinho a fita K-7 dos primeiros ensaios e o vídeo em VHS que fizemos só por curiosidade. Ah! Emmerson foi convidado nesse dia apenas para filmar e se comportou como fã e empresário da banda, dando vários palpites e vibrando muito nas versões que fazíamos do Balck Sabbath, Metallica, Motörhead e Iron Maiden.

No final de 2002 chegava ao fim minha dependência de bolsas, prestei concurso público para professor em Histologia e Embriologia na Universidade Regional do Cariri – URCA/ Ceará. Passei em primeiro lugar! Fui chamado ao telefone pelo prof. Alexandre Magno em março de 2003. Ao me apresentar, os profs. Cunha e Jorge, tendo visto meu currículo, perguntaram-me se eu queria assumir as disciplinas de Evolução e Zoologia. Disse “sim” prontamente!

Em maio do mesmo ano nasceu meu filho Daniel e fiquei surpreso com o aflorar de meus instintos paternos. Não racionalizei nada, apenas deixei a evolução de minha espécie tomar conta de mim. Enchi-me de amor por aquele menino como nunca antes havia em minha vida por outra pessoa. Sabem, antes disso, andava naquelas crises niilistas profundas que temos na universidade, procurava o significado das coisas, o sentido da vida. Meu filho e meus instintos primatas mostraram-me o que a natureza tinha de melhor para mim! Aos meus ancestrais com respeito e devoção! A história de minha linhagem continua em Daniel e, quatro anos depois, minha filha Gabriela.

Entre aulas na URCA e viagens para UFPB consegui terminar minha tese em 2003, com auditório lotado e aplausos. Fui o primeiro a me tornar "doutor" da minha turma, terminei com três anos e meio e, finalmente, conquistei minha aprovação com distinção.

Não pude escrever tudo aqui, as confrarias de ciência que montamos (Lunáticos, Os Quatro Fantásticos e os Quatro Elementos), as mulheres, os casamentos, os amores para vida inteira e aqueles que perdemos. Fica a saudade, a minha imprecisão e até as lágrimas retidas de tanta saudade que sinto dos momentos que vivi ao lado de meus amigos. Os sonhos de ser cientista em um país do "terceiro mundo" e... bem no meio de uma das regiões mais pobres do Brasil (o Nordeste).

Nosso brinde com influência de Neil Gaiman fala por si só:

"Aos Amigos Ausentes
Aos Amores Perdidos
Aos Antigos Deuses
À Estação das Brumas
E que cada um dê ao demônio o que lhe é merecido."

Quantas vezes declamei isso ao lado de vocês? Ou mesmo no dia em que eu, Élvio e Márcio invadimos o Cemitério da Boa Sentença, porque um de nós (Élvio) precisava declamar Augusto dos Anjos deitado em um túmulo às duas da manhã.

Vivi, vi, venci, fui derrotado, amei e fui odiado. Eu sou humano demasiado humano.
Não fui o mais produtivo de minha turma, terminei com (1) uma segunda edição de livro, (2) dois capítulos de livros (um internacional) e (3) um artigo publicado (sem contar o outro de 1999). Para os padrões de hoje, três anos e meio depois, essa é uma produção modesta. Todavia, dos meus cinco trabalhos mais importantes, quatro deles foram feitos nesse período, entre meu mestrado e doutorado. Tenho também a vaidade de ver o currículo de meu orientador, onde, dos seus cinco melhores trabalhos, dois (40%) são assinados por mim em primeira autoria.

Ainda restam seis anos de URCA para resumir aqui. Nesse período fui professor e político, mas meu coração e atenção sempre estiveram com meus amigos e irmãos, agora espalhados pelo Brasil (UFPB, UEPB, UFRN, UFPA e UEFS), ou mesmo fora dele (meu amigo Luis Rocha está no Marine Science Institute of the University of Texas). Nesse tempo vi todos eles se tornarem professores, alguns hoje brilham e são paparicados como estrelas do rock'n'roll.

A URCA, além do emprego em si, deu-me oportunidades para inovar em minha pesquisa, voltar ao campo, dedicar-me ao estudo dos parasitas que mais admiro, uma lição de política, amizade e profissionalismo.

Os dias de URCA estarão no próximo post...

Obs.: Após o fim das Crônicas Universitárias, vem aí a série O SIGNIFICADO DAS COISAS... Aguardem!!!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Crônicas universitárias: mestrado


Era a comemoração de fim do ano do Departamento, salgadinhos, cerveja e refrigerante. Quem conhece meu orientador sabe que ele estaria lá. Martin adora comer... e comer muito, por onde ele passa não fica salgadinho sobre salgadinho.

Eu já tinha sido aprovado na seleção do mestrado e aproveitei a oportunidade para conversar com ele sobre meu projeto de dissertação. Eu só pensava em continuar com os Pentastomida, dar continuidade ao trabalho anterior. Havia um monte de fósseis estranhos do Cambriano (cerca de 450 milhões de anos) chamados “lobopodados”, devido às pernas não articuladas chamadas lobopódios. Além disso, há dois grupos de animais lobopodados ainda hoje vivos chamados Onychophora e Tardigrada e os fósseis dos pentastomídeos, descobertos e descritos desde 1985, indicavam uma possível relação evolutiva com esses animais.

Eu só lia, falava, escrevia, sonhava com essas criaturas:

Entre os mais inusitados, havia um grupo em especial chamado de Facivermis yunnanicus, que, assim como os pentastomídeos, possuem uma cefalização de lobopódios como adaptação para o parasitismo:

Falei dessas coisas para Martin que ouviu tudo entre um salgadinho em uma mesa e um petisco em outra. Por fim, perguntei:

Eu: - “Então, o que você acha?

Martin: - “Você não pensa em um desafio maior? Que tal os Annelida? Esse grupo deve ser parafilético e a chave da evolução dos animais metaméricos. Estão preparando um congresso internacional sobre Polychaeta no Brasil, poderemos apresentar o trabalho lá. Após esse congresso, haverá uma edição especial do Bulletin of Marine Science, onde os trabalhos apresentados poderão ser submetidos”.

Eu: - “Ok! Vou preparar o projeto.”

Em meu íntimo pensei: “Uau! Meu orientador reconheceu meu potencial!”. Era uma pausa nos meus estudos com pentastomídeos. Confesso que nunca deixei de pensar nesses parasitas. Como todo bom pesquisador, eu também me apaixonei pelo meu objeto de estudo. São parasitas feios e nojentos, mas se há alguém no mundo que gosta dos pentastomídeos... não sou eu. Na verdade sou é morto de apaixonado por eles!!! Tenho uma profunda admiração e curiosidade sobre esses animais estranhos. Bem, mas isso é outra história.

O mais importante aqui não é contar sobre essas coisas, porque publiquei tudo logo depois e está acessível para todos aqui na internet.

Bem, eu consegui mais três anos na universidade com bolsa e tudo mais, era o mais importante para mim. O problema veio logo em seguida, a CAPES reduziu tempo da bolsa para dois anos e meio em 1997, depois para dois anos em 1998.

Também houve um atraso de um pouco mais de um mês na bolsa em 1998. Lembro muito bem, porque foi quando tinha comprado o álbum "Nightfall In The Middle-Earth" do Blind Guardian. Um disco todo baseado no livro "O Silmarillion" de J. R. R. Tolkien. Corri atrás de ler o livro para entender melhor as músicas, mas na Biblioteca Central só tinha "O Hobbit", o qual terminei lendo. Nas livrarias em João Pessoa, só havia para vender "O Senhor dos Anéis". Comprei os três volumes e com o atraso da bolsa fiquei em casa mergulhado no mundo de Tolkien!!! Não dá para esquecer, não é?!

Do mesmo jeito da graduação, Alexandre novamente me convenceu a fazer parte da chapa única para a representação dos alunos da Pós-graduação em Zoologia. Lá estava eu de novo em meio às reuniões!!!

O atraso das bolsas também levou a nos reunirmos com os representantes da Associação dos Alunos de Pós-Graduação - APG/ UFPB. Foi nessa reunião que fiquei sabendo o significado de fazer mestrado no Brasil. Primeiro, era um curso de capacitação para o doutoramento, os alunos da graduação saiam muito crus, sem saber elaborar projetos, publicar, essas coisas. Segundo, era algo especial no Brasil, nos países desenvolvidos é comum os alunos irem direto para o doutorado sem passar por um curso de mestrado antes.

Foi o sucesso do PIBIC/ CNPq um dos motivos alegados para a diminuição do tempo de mestrado. Havia agora a capacitação dos alunos de graduação na pesquisa científica. O objetivo do MEC é ainda hoje aumentar o número de doutores no Brasil que deixa a desejar, por exemplo, quando nos comparamos a países vizinhos como a Argentina.

O professor Adelmar Bandeira foi crucial nesse processo. Ele era o coordenador na época e deixou muito claro para nós que deveríamos seguir as orientações da CAPES. O regimento da UFPB ainda estava em debate e lá constava um prazo máximo de cinco anos para mestrado. Adelmar foi um visionário e ótimo coordenador, enfrentou toda a minha turma e exigiu que terminássemos nos prazos da CAPES (se o regimento da UFPB permitia na época cinco anos, pedimos os três que foram dados para os alunos antes de nós). Adelmar permaneceu uma rocha e cumprimos na época nossos dois anos e meio, conforme a CAPES recomendava. Nós fomos a última turma de mestrado com esse tempo, todas as outras desde então possuem apenas dois anos. O resultado dessas medidas foi que nosso curso manteve seu conceito cinco (a maior pontuação para mestrado na CAPES).

Adelmar também foi o coordenador do projeto de implantação do doutorado em Ciências Biológicas (Zoologia) no DSE. Poucos na época acreditavam que esse projeto fosse aprovado. Foram anos muito difíceis para Adelmar, sua produção acadêmica caiu, ele perdeu sua bolsa de pesquisador, foi xingado de “ditador”, teve problemas de saúde, combateu firmemente todo o pessimismo e muitas vezes eu o vi sozinho lutando pelo mestrado e o projeto de doutorado.

Em 1999 a CAPES aprovou o doutorado. Nós reconhecemos o trabalho coletivo do departamento, mas agradeço do fundo de meu coração ao Adelmar, o nosso “macaco alfa” que liderou com êxito todo o processo.

Passei a quase residir no Departamento, estava lá de domingo a domingo. Minha permanência nas noites passou a ser rotineira. Eu me dediquei completamente ao meu trabalho.

Notei muitas vezes que não estava sozinho!!! Dos ratos, das baratas e até fantasmas que vi, não foram noites bem dormidas! Ah! Vi alguns casais por lá, mas nunca falei nada a respeito e só registro isso de passagem... rsrsrs!!!

Se eu tive crises na graduação, no mestrado elas foram muito mais intensas e devastadoras. Ao tempo em que eu desaparecia para dentro de minha dissertação, sentia-me mais sozinho do que nunca.

No meio do mestrado, minha amizade com Élvio Sérgio Medeiros (atual professor da UEPB) se intensificou. Era quase sagrado sairmos na segunda e/ou na terça para algum bar à beira mar. Do almoço até o outro dia, bebíamos muito! Nesse período conheci o irmão dele, Eduardo. Estávamos indo para Campeonato de Jogos Alternativos realizado no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – CCHLA/ UFPB. As modalidades: cuspe à distância, porrinha, dominó, baralho e xadrez. Nós da Biologia perdemos tudo!!! Éramos muito mais nerds do que os nerds das humanidades presentes... rsrsrs!!!

Eduardo estava com uma camiseta do Slayer (Show No Mercy) e eu também usava uma da mesma banda (álbum Diabolus In Musica)... Ficamos amigos instantaneamente. Quando começamos a conversar sobre ciência, amei aquele menino que tinha lido os livros de Carl Sagan e até Richard Dawkins!!! Claro, Eduardo era um gordinho muito ranzinza... Soltava uns palavrões tão rápido, quanto chorava minutos depois. Eduardo fazia pose de casca grossa para esconder sua sensibilidade. Típico de nerds! Eu quem o diga... rsrsrs!!!

Para onde eu iria e o que faria após o final do meu mestrado?! Doutorado era a minha primeira e mais preferida opção. Eu compreendi o que estava acontecendo no Brasil muito bem. Enquanto víamos os discursos verborrágicos de um professor universitário no comando do Brasil (Fernando Henrique Cardoso) sentíamos na carne todo o sucateamento das universidades públicas. Não havia concursos, salários e bolsas (em todos os níveis) foram congelados. As faculdades e universidades particulares explodiram no final da década de 1990. Do meu lado, eu sentia que seria mais um mestre em biologia desempregado. Como explicaria isso aos meus pais? Como? Eu tinha ido mais longe que pude, mas ficara desempregado com dois diplomas em minhas mãos?!

Nas aulas de Zoologia de Campo, eu lembro de caminhar pelas trilhas da mata em Brejo dos Cavalos, no município de Caruaru - PE, com walkman nos ouvidos escutando minha fita K-7 do Angra (Freedom Call)... Eu andava em uma fossa existencial típica dos acadêmicos.

André Rinaldo Senna Garraffoni e Gustavo Sene Silva vieram da USP no início de 1998, sob a orientação de Dalton de Souza Amorim. A equipe reunida em João Pessoa traçou o esboço que apresentaríamos alguns meses depois em Curitiba-PR no "Sixth International Polychaete Conference".

Em agosto de 1998 todos nós nos encontramos na Universidade Federal do Paraná e foi para mim a maior lição de sociologia da ciência que vivenciei até hoje. Tantos especialistas em poliquetos prestando quase reverência as figuras tradicionais de poder como Kristian Fauchald e o seu pupilo mais ilustre, Greg Rose. Advinhem quais idéias nosso trabalho discordava? Pois é!!! Estávamos com um trabalho que divergia logo de Rose e Fauchald! Querem mais?! Éramos os únicos falando em bom tom que o grupo tema do congresso não passava de parafilético, ou seja Polychaeta não existia naturalmente, não da forma tradicional que esse táxon foi proposto.

Martin apresentou o trabalho e queria que cada um de vocês estivessem lá para ver. Ele fez isso com umas transparências que preparou uma noite antes. Ele é averso a recursos audivisuais, imaginem?! Foi um reboliço na platéia. Eu senti uma admiração muito grande por ele estar ali e enfrentar tudo, porque os resultados de sua pesquisa diziam o contrário. Pensei, "isso é ser um cientista de verdade! Sem medo de escárnio, defendendo hipóteses contra o establishment"! O resultado? Foi assim, Martin havia me falado que foi muito bem recebido no domingo, estava conversando com todos e tal, após a apresentação, muitos ficaram em silêncio e teve até “pesquisador tupiniquim" que virou as costas para ele e Dalton. Não lembro o nome de um pesquisador mexicano que nos procurou depois, mas ele foi enfático com Martin: "você tem coragem" (as palavras em espanhol foram: "Tiene huevos grandes!" rsrsrs!!!).

Se isso aconteceu com nossos orientadores, imaginem para eu, André e Gustavo. Ficamos meio pelos cantos largados e eu mais ainda! André e Gustavo aproveitaram a oportunidade para procurar orientação em seus mestrados. Falaram com Paulo Lana (UFPR) e deu tudo certo para eles! Hoje já são doutores, estão muito bem empregados e felizes da vida.

Registro de passagem por pura curiosidade, André e Paulo Lana descreveram uma nova espécie de poliqueto em 2003 e a batizaram Terebellides sepultura, homenagem a maior banda de heavy metal brasileira em todos os tempos!!! Isso é coisa de meu amigo André!!!

Leiam: [click] http://www.scielo.br/pdf/isz/v93n4/a02v93n4.pdf

Bem, sei que as coisas não são assim tão simples, nem tão pouco temos a razão sempre. André muito bem me alertou meses depois para não exagerar na postura de que sofríamos discriminação acadêmica por sermos de um país pobre. Claro, estar fora dos centros de ciência do mundo sempre atrapalha.

Eu delirei muito na platéia, pensando tudo ao inverso. Se nós fossemos as estrelas, se fossemos nós os europeus, ou norte-americanos adorados pelos latinos e orientais de países pobres?! Vi como as meninas se atiravam para Greg Rose e como invisível eu era. Se eu fosse ele... iria para cama com todas... rsrsrs!!! Eu me comportava tipicamente como um macho gama, ou ômega diante do alfa. Com planos de derrubá-lo, reunir os fiés e assumir a liderança do grupo!!! rsrsrs!!!

O nosso trabalho foi para mim o mais complexo e desgastante pesquisa que já participei. Apresentado em 1998 com título "What if Polychaeta, Annelida and Articulata are not monophyletic? Articulating the Metameria", recusado um ano depois nos Estados Unidos e mais alguns anos mais tarde na Alemanha. Não desistimos e conseguimos publicá-lo em 2003 no Brasil (o título ficou "Polychaeta, Annelida, and Articulata are not monophyletic: Articulating the Metameria (Metazoa: Coelomata)") na Revista Brasileira de Zoologia. Desde a preparação da primeira versão submetida à publicação passaram-se seis anos. Tenho orgulho dessa publicação e mais ainda de ter trilhado toda essa história ao lado de Martin, Dalton, André e Gustavo. Memorável!

Para saber mais sobre esse trabalho leiam:
[click] http://www.scielo.br/pdf/rbzool/v20n1/v20n1a06.pdf
[click] Quando éramos vermes
[click] Sociologia da Ciência
[click] Hipóteses
[click] Implicações

Enquanto isso, meus amigos dispararam a publicar! Era o início da era da publicação contínua que iria nos atingir em cheio a partir de 2000. Ah! Já existia o banco de currículos Lattes do CNPq, mas foi em 1997 que fomos todos obrigados a fazer nossos currículos, caso contrário perderíamos nossas bolsas. Na época fiquei muito chateado, porque não queria colocar na internet meu currículo com apenas um artigo publicado. Hoje meus orientados fazem isso para concorrer a seleção de bolsas, seus currículos iniciais têm apenas o endereço e crescem com o tempo de estágio!

Não tive o mesmo desempenho que a graduação. Eu fui o primeiro mestre apenas aprovado (sem a tal “distinção”). Eram novas regras do programa e a formatação de minha dissertação não havia ficado boa.

Pior, solicitei orientação ao Dalton para o doutoramento e ele disse um “não” bem sonoro. André e Gustavo seus orientados já haviam levado os deles e tinham me prevenido que isso aconteceria lá em Curitiba. Mesmo que meus amigos estivessem certos, eu precisava tentar.

Aí fiquei assim aos meus 28 anos de idade: desempregado, sem dinheiro, sem perspectiva de fazer doutorado e até minha dissertação foi a primeira apenas ‘aprovada’.

Sinto pelas palavras que usarei agora, mas somando tudo, ao final do meu mestrado... “Eu fiquei na merda!!!”

O doutorado na Zoologia, aprovado no final de 1999, iria se iniciar em 2000, mas eu não poderia me inscrever, porque só possuía um artigo publicado e o mínimo era dois (no prelo, ou publicados).


Dalton na banca de minha defesa de dissertação falou que a Editora Holos estava para lançar uma série intitulada Monografias, Dissertações e Teses. Meses depois, Martin pediu que eu preparasse minha dissertação para submissão nessa série, recebemos o aceite para publicação em tempo para minha inscrição na seleção do doutorado.

Passei em primeiro lugar! Recebi a notícia com um alívio no coração... As coisas pareciam melhorar. Imaginem, em casa, ao invés de desapontar meus pais, eles ficaram felizes às lágrimas, porque seu filho ia se tornar “doutor de verdade”. Minha mãe fez questão de falar isso para todos os vizinhos!!!


Certa vez, na parada de ônibus, cá da minha solidão de nerd, escutando heavy metal com meu walkman, vi uma menina de minha rua me “dando mole”. Até as mulheres passaram a me olhar diferente, pensei com minha camiseta preta de estampa do Sepultura.

Meus dias de doutoramento estavam para começar...

 
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