Ao fim da série Diálogos só posso escrever que eles nunca terminarão de fato. Afinal, somos seres humanos e temos a linguagem falada como um dos pontos chaves do que somos. Por isso, cantamos e "continuamos falando" (Pink Floyd – "Keep Talking"):
Na prática de verdade... Nós brasileiros estamos muito além do que necessitamos como cidadãos. Temos uma megadiversidade ainda para ser satisfatoriamente descrita, melhorias na saúde, infraestrutura e... há nosso descaso secular com a educação. Como poderemos dialogar com nossos cidadãos sobre os pontos aqui apresentados se remuneramos mal nossos professores e restringimos quase na forma de um apartheid o acesso ao ensino superior?!
Construir hospitais, escolas, creches, esgotos, pontes e estradas? Sim, sim! Mas... Na mesma proporção precisamos dos professores e os frutos deles para que isso seja possível. Precisamos formar mais médicos, enfermeiras, fisioterapeutas, odontólogos, engenheiros, biólogos, químicos, policiais... Todo um país!!!
Não há nada sem a formação de nosso povo! É, eu sei que ouvimos isso todos os dias, mais um clichê, não é?! Todavia, verdades são assim mesmo, batem nas nossas portas até um dia entrarem definitivamente em nossas vidas.
A China foi a civilização à frente de todos os povos a mais de dois mil anos antes de Cristo. Com o passar do tempo em sua rica história milenar a China passou por várias fases. Na mais recente, estamos todos surpresos porque vemos seu atual desenvolvimento atrás apenas dos Estados Unidos e União Européia. Mais ainda, estima-se que nas próximas duas décadas a Grande China poderá ser a maior potência do mundo! Como isso pode ser assim?! Só na China continental, há algumas décadas havia fome e analfabetismo em massa! Tudo mudou a partir das reformas que se iniciaram em 1978, entre elas, obviamente estava a educação como agente estratégico: "As melhores universidades chinesas agem decididamente na atualização da infra-estrutura e do conjunto de capacidades, estabelecendo para tanto parcerias com instituições e empresas ocidentais e requisitando ativamente docentes diplomados no exterior. (...) Hong Kong se orgulha de suas oito universidades, mais do que o dobro das três existentes no final da década de 1970. Essas universidades, algumas de padrão mundial, exercem um papel fundamental na qualificação dos recursos humanos da China; é cada vez maior o número de estudantes da China continental nelas matriculados e muitos graduados acabam trabalhando, direta ou indiretamente, para empreendimentos no continente" (Shenkar, O., 2005. O Século da China. Editora Bookman).
E nós aqui no lado Sul do mapa... nem de longe fizemos o mesmo! Apesar de toda a propaganda feita sobre investimentos no ensino fundamental e médio, nossos professores ainda são muito mal remunerados e as escolas públicas sucateadas. “Que país é esse?” - Continuamos a cantar com muita tristeza!
Os Diálogos que desenhei são possíveis, mas em situações raras. Por quê? Sinto vergonha de escrever que além disso, em nossa realidade, descreveríamos as pessoas que apresentei como especiais. Olhem para Manoel, um vendedor de lanches, ele não é normal! Eu sei, você sabe quase sem querer, que vejo o mesmo que você... nas ruas, nas praças, nos ônibus... Falta de educação, saúde, lazer, respeito, cidadania. Abandonamos nosso povo! Depois ficamos classificando a todos como rudes e pobres de espírito.
Alguns de nós quando conseguem um empreguinho e ascendem, ou permanecem na “classe média apertada”, vão morar em condomínios fechados, pagam uma saúde privada e colocam os filhos em escolas particulares... Esquecem que se não cuidamos da moradia de todos os brasileiros, nossa civilização padece! Se todos não possuem saúde, todos nós adoecemos! Os agentes biológicos não respeitam quem tem, ou não plano de saúde e, para eliminá-los, todos nós temos que estar saudáveis! Se deixamos nosso povo com educação precária... Não há o que reclamar de mortes no trânsito, do lixo na rua, ou do crime organizado. Para mim, a "classe média" é a principal responsável por sua falsa erudição e covardia... Padece por sua própria omissão e espírito de pequeno burguês. Aqui no interior do nordeste, onde tudo é pobre, tenho visto uma "classe média" ainda mais horrível, daquelas endividadas por um carro mediano como um Honda Civic, que exploram a mão de obra de pessoas fragilizadas e vivem de inveja, rancor e mau dizeres por não conseguirem morar no litoral.
Tenho muito orgulho de escrever que eu sou professor dos pobres, dos filhos dos agricultores, dos taxistas, dos comerciários, dos feirantes e das domésticas. Não estou exagerando, perguntem para eles:
Minha primeira equipe de Iniciação Científica ao meu lado no Laboratório de Zoologia da URCA. Da esquerda para direita: Sarahbelle (hoje mestre pela URCA), Suzana (mestranda na UFMA), Samuel (doutorando na UFPB), Felipe (doutorando na UFPB) e eu.
Parte de minha equipe atual em trabalho de Campo. Da esquerda p/ direita: Samuel (mestrando UFPE), Guilherme (estagiário IC - URCA), Israel (mestrando URCA) e Diego (bolsista IC-FUNCAP/ URCA).
Esses meninos e meninas brilhantes que fazem ciência de verdade - aqui no interior do nordeste brasileiro - mudam vidas e logo, logo estarão no meu lugar... Professores em todos os níveis que necessitamos por um mundo melhor e mesmo para tornar os Diálogos sobre ciência algo comum no cotidiano, como nosso feijão com arroz.
Assim encerro a série Diálogos dedicando ela aos meus alunos, cujos mesmos Diálogos no laboratório só me enchem de esperanças por um Brasil melhor e forte!!!
Turma concluinte da Biologia - URCA /2009.2 - No centro está Débora, uma de minhas bolsistas do PIBIC/ CNPq: em baixo, da esquerda para direita, a quinta menina olhando para cima e toda sorriso!