quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Anacronismo


Essa é uma ironia da vida humana neste planeta: vivemos com corpos pleistocênicos (isso inclui cérebro e mente) em um meio cultural de evolução dinâmica. Somos todos anacrônicos!

Tem uma música da banda Engenheiros do Hawaii chamada "Crônica" que melhor retrata isso: "você que tem idéias tão modernas, é o mesmo homem que vivia nas cavernas".

Lembrem-se que na vida de um grupo tribal todos têm laços familiares e de amizade. A tribo é composta de irmãos, primos (de todos os graus), sobrinhos e outras pessoas relacionadas a eles. Nesse ambiente você tem uma identidade e função natural, em vias de regra todos são caçadores-coletores (guerreiros) e seus problemas, alegrias e tristezas são compartilhados pela maioria, senão por todos.

Imagine agora você hoje em uma parada de ônibus. Você está cercado de pessoas, mas todas são estranhas e indiferentes a qualquer dor física, ou emocional sua. Não é fácil viver em um mundo assim. Nossa mente primata, envelhecida e milenar está lá, cobrando tudo como ela foi adaptativamente criada. Você então tem depressão!

Você já ouviu falar em "índio suicida"? Não suicídio porque foi escravizado, ou pelo abuso "moderno" de álcool e outras drogas(*). Pergunto, como exemplo, se na história dos Massai, anterior ao colonialismo, você ouviu falar de suicídio por depressão e solidão em larga escala?! Pois é, mesmo quando tinham problemas, esses eram compartilhados por todos.

Mas essa não é a única característica que é anacrônica em nós. Outro exemplo, você não acha estranho que, independente de cultura ou país, os homens insistam em se reunir? Um monte de machos juntos falando de esporte (competição), trabalho (dinheiro, poder,
status) e sexo. Vejam como eles compartilham algum tipo de droga ritualizada (a mais comum hoje é álcool) e tem até petiscos na mesa que são compartilhados por todos (ou seja, um prato principal comum)... Como se estivessem em uma tribo de caçadores-coletores sentados ao redor da fogueira, com um cachimbo ou cigarro (o copo de cerveja de hoje)... rindo e comendo carne de churrasco.

Mulheres fazem isso, mas não da forma que estou me referindo aos homens. Em média nossas fêmeas maduras (dos 30 anos acima) são mais ligadas à família! Isso não quer dizer que elas gostam de ser donas-de-casa e não apreciam festas, muito pelo contrário!!! Mas a estrutura do grupo de uma mulher madura, na maioria das vezes, envolve a família. Até os automóvies que elas preferem quando adultas, em média, são automóveis de função familiar (estilo "Palio Weekend"). Já os homens... seguem o estilo "James Bond-007... Porsche 911 Turbo"!!!

Viver em um mundo de bilhões de pessoas, com nosso cérebro que só pode armazenar em média uma centena de nomes (o que reflete o tamanho de seus relacionamentos) não é fácil. Sem contar na adaptação de nosso corpo para viver andando e correndo nas savanas africanas. Sabemos que ficar sentado o dia inteiro no trabalho e parado em casa diante de uma TV por longos períodos engorda, atrofia os músculos e é mortal para nosso coração.

Nossos antepassados também andavam e corriam antes mesmo do Pleistoceno. Em alguns milhares de anos, com o advento das grandes civilizações, mudamos nosso ambiente... Mas esquecemos que nosso corpo não muda assim tão rápido. Antes do surgimento do ser humano, passaram-se bilhões de anos de evolução, somos uma espécie muito jovem e recente quando comparada com outras (por exemplo, os escorpiões do Cambriano).

A evolução cultural e tecnológica foi tão rápida, tão dramaticamente rápida que nossos corpos e mentes continuam pleistocênicos, entre arranha-céus e computadores!

Abrimos nossos olhos no Pleistoceno, mas não mudamos física, ou emocionalmente desde então.

Somos puro anacronismo!!!

(*) Quem tiver interesse, segue dois links sobre a preocupação atual do suicídio entre índios:
http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol30/n1/4.html
http://www.health.state.mn.us/mentalhealth/indworkgroup.html

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