A natureza humana não possui qualquer vínculo com programas políticos e econômicos idealizados por homens para justificar o domínio de uma “elite”, concentração de renda, espólio dos recursos naturais não-renováveis, poluição e miséria, miséria por qualquer canto.
Leia com atenção um parágrafo que para mim é uma ótima síntese de nossa história recente:
"Os instintos complementares da moralidade e tribalismo são facilmente manipulados. A civilização tornou-os ainda mais manipuláveis. Há apenas 10 mil anos, um átimo no tempo geológico, quando a revolução agrícola começou no Oriente Médio, na China e na América Central, a densidade populacional decuplicou em relação às sociedades caçadoras-coletoras. Famílias se fixaram em pequenos lotes de terra, aldeias proliferaram e o trabalho foi refinadamente dividido à medida que uma minoria crescente da população especializou-se como artesãos, comerciantes e soldados. As sociedades agrícolas nascentes, igualitárias de início, tornaram-se hierárquicas. À medida que tribos e, depois, Estados prosperaram com excedentes agrícolas, dirigentes hereditários e castas sacerdotais tomaram o poder. Os antigos códigos éticos foram transformados em regulamentos coercitivos, sempre em benefício das classes dominantes. Por volta dessa época, surgiu a idéia de deuses concedentes de leis. Seus mandamentos conferiram aos códigos éticos autoridade absoluta, de novo - o que não surpreende - em benefício dos dirigentes." Wilson, EO. (1999: 244)
Muitas pessoas erroneamente compreendem o Capitalismo como um sistema que possui afinidade com a natureza humana. Indivíduos são apontados na forma de "naturalmente egoístas". O indivíduo é livre em um mundo de competitividade absoluta, no qual ele deverá desempenhar seu melhor para vencer seus concorrentes.
O desenvolvimento dessa idéia é aterrador: "diferenças sociais refletem à natureza!" Ou seja, caro leitor, se você não é bilionário a culpa é de seus ancestrais e sua, por não terem a mesma competitividade e aptidão “natural” de quem é.
O mais grave ainda nessa idéia é que o raciocínio lógico leva essas pessoas pensarem que são realmente melhores do que outras apenas por um parâmetro de bens de consumo e não pela verdadeira natureza das coisas.
Este Blog chama-se Macaco Alfa, porque pretende ser um guia para liderar minhas idéias até meu romance nascer. É chamado assim por que sei, após ler um pouco (*) e ter estagiado por seis meses em 1993 no Laboratório Tropical de Primatologia da UFPB, que nós primatas possuímos uma estrutura social que contem líderes (macacos alfa).
Como são esses Líderes?
Devido à grande semelhança conosco, vamos nos ater apenas aos chimpanzés comuns (Pan troglodytes) (**). O macho alfa é fisicamente o mais forte do grupo, mas apenas isso não bastaria para ele ocupar a sua posição de status no grupo. Ele é eleito por seus pares, tem sempre a maioria lhe apoiando (essa é sua verdadeira força).
Como ele consegue isso? Já escrevi aqui sobre genética e nossos corpos (leia o texto “Andamos por aí”). Grande parte de nosso comportamento também é genético, o macho alfa possui o “dom biológico” comportamental da força física e, acreditem, da “moderação” entre os seus. Por ser essa mistura de força e mediação, ele faz a diferença como amigo e em conflitos. Nestes ele deverá ser imparcial, sem tomar partido por A, ou B. Isso diminui a agressão entre o grupo e não atrai um mal-querer para si próprio por causa da defesa desse, ou daquele.
O macho alfa é corajoso e fiel ao seu grupo. É o primeiro a defender todos, nem que isso o leve à morte diante de um perigo. Ele é o político ideal e o herói de seu povo! Com essas características, possui muitos amigos (o seu braço direito é chamado macho Beta), causa inveja em seus opositores (aspirantes ao seu posto) e... ele tem muitas e muitas fêmeas!!!
Quando alguma dessas características falha? Simples assim: um novo macho alfa toma a liderança do grupo com o apoio da maioria. Um sistema auto-regulado, um clássico de feedback.
Se nossa ordem social não é geneticamente disposta, ela esconde à realidade. Ver pessoas na rua, em meio à miséria quase absoluta, trás a idéia de fracasso daquele indivíduo, ou algum problema grave que o tenha levado a tal situação. Isso não faz qualquer sentido, porque nas periferias das cidades surgem pessoas valorosas, verdadeiros líderes!!!
Como pode ser isso? Segundo a idéia de um neoliberal, pessoas em miséria deveriam merecer estar assim, porque foi a “ordem natural das coisas”, os mais “aptos” venceram, ganharam e acumularam muito dinheiro.
Nada mais falacioso e pseudocientífico!!!
Há pessoas de grande valor surgindo em toda parte, independentes de sua posição econômica... é biologia e a estrutura social do grupo que dita isso!!! Líderes comunitários, líderes de movimentos sociais, líderes das minorias, líderes das maiorias... Eles estão por todo lado. Com apoio de seus pares, reconhecidos por eles.
São nossos heróis, tornam-se a base de mitos e até podem ser considerados seres sobrenaturais após sua morte!!! Os macacos alfa!!!
Compreender a verdadeira natureza humana é a chave... Os defensores do Capitalismo que se segurem, líderes com poder e moderação surgem o tempo todo entre os bilhões de excluídos. Os líderes, os "macacos alfa", estão por aí liderando uma lenta e gradativa revolução.
Por fim, eis o nosso corolário: "queiramos ou não, o Homo sapiens é uma espécie biológica." (Wilson, 1999).
Ecce Homo!!!
Citação: Wilson, EO., 1999. Consiliência: a unidade do conhecimento. Editora Campus.
(*) Todas as informações colocadas neste Blog podem ser obtidas nos livros que li e estão nas referências ao lado. Se você leitor não conseguir encontrar alguma referência, eu posso lhe emprestar. Mas, por favor, não esqueça de devolver meus livros, ok?! rsrsrs
(**) Bonobos são um caso a parte.
3 comentários:
Só uma consideração. Para que haja entre os homens a desigualdade social, existe uma condição sine qua non: a geração de excedentes econômicos de forma permanente.
Isso não significa que a simples existência dos excedentes resulte "naturalmente" em desigualdade social, porém é condição indispensável que os mesmos ocorram para que exista a exploração social do homem pelo homem.
Verdade,
Mas... Foi o que aconteceu em nossa espécie. Se, o excedente poderia, ou não ter gerado diferenças ERAM possibilidades... O que aconteceu foi o excedente apropriado por uma minoria e as diferneças sociais de hoje são frutos disso.
Verdade. Porém isso não significa que a ocorrência de excedentes gera a desigualdade social como algo natural. Existem sociedades que geram excedentes econômicos que não são apropriados por alguns.
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