Pedi a um amigo meu, Darlan de Oliveira Reis (professor de História), que definisse trabalho. Ele me repassou essa passagem de Marx:
"Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza. Desenvolve as potencialidades adormecidas e submete ao seu domínio o jogo das forças naturais."
(Marx, K., 1971. O Capital – Crítica da Economia Política. Vol. 1. Editora Civilização Brasileira).
Após a atualização descrita e definição do "trabalho", façamos uma síntese rápida da história humana:
(1) Aumento da cognição através do crescimento do cérebro por um evento estocástico (mutação) e seleção natural (mais inteligentes = maior aptidão).
(2) Maior cognição levou ao domínio do fogo e o incremento das ferramentas.
(3) A nova cognição e tecnologia (fogo e ferramentas) foram aplicadas no domínio da reprodução de plantas (agricultura) e animais (pecuária).
(4) A agricultura e pecuária do neolítico resultou na produção de bens em excedentes.
(5) As relações entre humanos e natureza passaram de caçadores-coletores para o agronegócio das tribos às civilizações mesopotânicas, do escambo ao dinheiro.
(6) Um grupo central de humanos, imbuídos da organização política e religiosa, apropriou-se do excedente e passou a explorar seus semelhantes: surgem os escravos.
(7) Revolução industrial resultou em trabalho assalariado e acúmulo de bens sem precedentes na história humana: surgem os explorados pelo capital.
Engels estava certo na propositura de que o trabalho foi um dos fatores que humanizou o macaco que somos. Contudo, o avanço cultural e tecnológico foi e é muito mais rápido do que a evolução de nossos corpos biológicos.
Nossa estrutura cognitiva é alicerçada em um mundo tribal pleistocênico. Nesse mundo tínhamos diferenças individuais, aptidões diferenciais, mas cuidávamos um do outro, dividíamos a comida e os bens da tribo (como a plantação de mandioca) eram de todos.
Temos aproximadamente 1 milhão de anos enquanto humanos, as civilizações surgiram cerca de 5.500 anos atrás, ou seja, apenas 0,5% de nossa história na Terra. Mudamos radicalmente o nosso mundo sócio-econômico em muito pouco tempo. O mundo cultural ficou impregnado por nossa vida tribal, que representa 99,5% de nossa história humana. Sem contar que este mundo industrial como conhecemos hoje tem apenas 200 anos (0,02% de nossa história).
O trabalho humano sobre à natureza hoje é uma forma de exploração assalariada em massa para acúmulo de bens de uma minoria.
Tenho a sorte de ter uma profissão que me dá prazer em exercê-la. Em meus trabalhos sobre evolução de animais metaméricos e ecologia de parasitas/ hospedeiros me realizo como ser humano e contribuo para a geração do conhecimento.
Todavia, se você vai para o seu trabalho com raiva, não apenas dele em si, mas da sua remuneração (que reflete o seu acesso aos direitos humanos para sobrevivência) alguma coisa está errada.
Em o,5% de nossa história passamos de igualitários para explorados e acumuladores de riquezas (muitas vezes apenas especulativas como o dinheiro). Destruímos ecossistemas, exterminamos espécies em massa, espalhamos pobreza e miséria em profulsão.
A humanização do macaco pelo trabalho gerou alienação no Capitalismo. Acho prudente sabermos de nossas origens e características biológicas. Um olhar para nossos irmãos chimpanzés deveria ser obrigatório para entendermos quem somos e qual a nossa missão neste planeta vivo, antes que só sobre apenas lixo e baratas como no mundo do robô Wall-E.
Após um upgrade dos dados sobre nosso conhecimento de evolução humana, nunca Engels foi tão verdadeiro quanto nos dias de hoje.
Talvez se estivesse vivo, Engels ficaria impressionado como conseguimos evoluir para um tipo de macaco tão desumano.
3 comentários:
Meu amigo, o que provocou a alienação do trabalho muito antes do capitalismo? Sem dúvida as razões foram políticas e ideológicas, mas há uma condição, veja bem, condição para que haja a alienação do trabalho: a existência de excedentes econômicos de forma permanente. Quando o desenvolvimento das forças produtivas possibilitou a produção de excedentes econômicos, surgiram as condições para a divisão social do trabalho em substituição à divisão natural do trabalho, comuns nas sociedades comunistas primitivas.
Com isso quero dizer que o "macaco humano" se desumanizou muito antes do capitalismo, nas chamadas "civilizações", seja no modo de produção asiático ou no escravismo ou em outros sistemas, encobertos por desigualdades além das sociais como a estamental e a de castas.
É isso aí camarada!!! Reajustei o título e o final do post em acordo com suas oservações.
Valeu!!!
W.
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