quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Um banho de Tempo



Você está no banheiro, liga o chuveiro e começa a tomar um bom banho numa tarde quente do nordeste. Pensamentos vão e vem, enquanto a água cai do chuveiro ao chão, uma mini-cascata só sua. Água de cima a baixo... Quanto tempo demora ela cair no chão? Quanto tempo demorou seu banho? Afinal, o que é tempo?

Boas perguntas em um banho, hein?!

A resposta de hoje é simples, embora levamos séculos de estudos para isso. Sendo objetivo, curto e grosso:

O tempo é nossa percepção de deslocamento no espaço desde o Big Bang. Só isso!!!

Toda a vida deste planeta está adaptada aos ciclos de rotação (dia e noite) e translação (estações) da Terra. Esses movimentos são resultado da ação de forças gravitacionais que tiveram origem no Big Bang. É dessa forma que nos deslocamos no espaço, em nosso sistema solar, Via Láctea... até o fim!

Preste muita atenção caro leitor, porque o fenômeno tempo não é a media que se faz através da convenção acordada internacionalmente nas Conférences Générale des Poids et Mesures (CGPM). Contar é apenas afirmar que existe algo e não dizer o que contamos é na realidade.

Muita gente pode ficar irritada, expor que o tempo é algo impenetrável, uma questão filosófica sem fim e novamente trazer um monte de citações como a famosa frase de Santo Agostinho sobre o tempo:

"
Se ninguém me perguntar eu sei, porém, se quiser explicar a quem me perguntar, já não sei".(Confissões, II, XI, 12, 14, 15 e 20)

Repito para ficar claro: o tempo é um fenômeno resultante de nosso deslocamento no espaço, ponto.

Em nosso exemplo do banheiro, podemos calcular o tempo que levou as gotas de água do chuveiro ao chão. O tempo calculado será similar ao deslocamento da água no espaço.

Existem outras faces do tempo abordadas de forma equivocada por muito "pensador" por aí. Falo de nossa consciência do passado, presente e futuro.

Antes que qualquer um andar falando em passado, presente e futuro deveria entender o básico sobre neurofisiologia e evolução da mente humana.

Passado é formado de recordações que precisamos para montarmos nossa personalidade, guardar informações importantíssimas sobre o ambiente e os recursos da nossa sobrevivência, trabalharmos essa informação no presente (o que existe de verdade) e projetar planos e estratégias futuras.

A informação de passado em nossa mente está em várias redes de neurônios com padrões de descargas eletroquímicas. Só isso!!! Danifique o cérebro e você verá que seu passado mais remoto, ou o recente poderão ser simplesmente apagados. Tema de filmes de ficção e o sofrimento com os défices amnésicos dos portadores do mal de Alzheimer.

O passado também está em ondas de transmissão de TVs, rádio e na luz das estrelas.

Entenda como seus sentidos funcionam. O olfato e a gustação são sentidos interpretados por quimiorreceptores, ou seja, odor e o sabor só existem quando moléculas entram em contato com as áreas sensitivas de seu nariz e boca, respectivamente.

Isso explica o sentimento de terror que sentimos diante dos cheiros mais desagradáveis como os de cadáveres, fezes, urina, esgoto e lixo. O odor sentido quer dizer que moléculas dessas coisas desagradáveis estão em seu nariz. Grosso modo de escrever, se você sente o cheiro de fezes é porque há “floquinhos de cocô dentro de seu nariz”... Argh!!!

Sua visão e audição são maravilhosamente diferentes. Esses sentidos estão baseados na percepção e interpretação de ondas eletromagnéticas e ondas sonoras, respectivamente. O fenômeno é interpretado sem tocar o objeto. Em outras palavras, vemos e ouvimos por reconstituição cerebral, não tocamos os objetos com esses sentidos... O oposto do olfato e gustação.

Por isso, podemos reproduzir em padrões de ondas eletromagnéticas as imagens e transmiti-las. O mesmo vale para as ondas sonoras que pode ser reproduzidas por nós.

Quando você assiste TV, mesmo que esteja lá no canto do vídeo escrito “Ao Vivo”, você está vendo a reprodução de imagens, você está vendo o que aconteceu. Pegue seu carro e corra até o local da notícia “Ao Vivo”, as imagens que você viu não estarão lá. O evento poderá ainda está ocorrendo, só que em outra etapa.

Você viu na TV o passado e ele não corresponde ao presente. O passado não existe, apenas podemos recriá-lo na interpretação de sentidos em nosso cérebro, nunca podemos recriar um evento passado em si.

Não podemos recriar em um CD o padrão de odores e sabores, mas, devido a nossa capacidade sensitiva da visão e audição podemos gravar em códigos reconhecíveis pelo nosso cérebro entrevistas, vozes, músicas, uma infinidade do que somos, guarda-las e até transmiti-las.

Entretanto, NÃO ESQUEÇA, as imagens e sons que você vê são reproduções de ondas eletromagnéticas em seu cérebro. Vou ser bastante repetitivo: É UMA REPRODUÇÃO DO SEU CÉREBRO DE ONDAS ELETROMAGNÉTICAS. É só reproduzir as ondas iguais, que os cérebros humanos reproduzem as mesmas imagens. Simples assim!!! EIS O MILAGRE DA TV!!!

Por isso não é possível viajar no tempo!!! Entendeu?!

Se tempo é a sensação de deslocamento no espaço (nossa adaptação aos movimentos de rotação e translação), então JAMAIS PODEMOS VOLTAR FISICAMENTE PARA O LUGAR NO QUAL NÓS NÃO ESTAMOS MAIS!!!

Eu sou um iconoclasta mesmo! Acabo de estragar o romance de H. G. Wells ("A Máquina do Tempo") e os poderes de Hiro Nakamura (no serido da TV "Heroes"), rsrsrs!!!

Veja a figura acima, é a descrição mais moderna do universo segundo Stephen Hawking. Note o ponto inicial, é uma singularidade: o Big Bang. O tempo como definimos é resultado dessa singularidade. Antes do Big Bang não há tempo, nem qualquer coisa que se assemelhe ao universo como conhecemos hoje.

Meu amigo Getúlio (IBAMA-PB) fez um comentário muito interessante sobre as estrelas no post passado (
Os esporos reprodutivos de Gaia). Ao olharmos para cima em uma noite estrelada, o brilho que vemos, as ondas eletromagnéticas reproduzidas pelo nosso cérebro, consiste de emissões milhares, ou bilhões de anos luz de onde estamos.

Nós vemos o passado olhando para os céus!!!

Se uma nave espacial fosse lançada rumo a uma das estrelas, ela deveria ir muito, muito rápido, porque ao chegar lá a estrela poderá estar morta, ou modificada em algo bem diferente daquilo que observamos antes na terra. Nunca poderemos estar entre as estrelas que vemos hoje, não exatamente as mesmas, ou da mesma forma que se apresentam hoje.

Levei minutos para digitar este texto, no decorrer do tempo fui à cozinha beber água e voltei. Não posso voltar rápido à cozinha para encontrar a mim mesmo, porque eu estou aqui no computador. Lembro do que fiz recentemente, mas não posso reviver isso com meu corpo.

A teoria da relatividade implica que se viajarmos à velocidade da luz percorreremos o espaço-tempo de tal forma que, comparativamente, envelheceremos menos do que as pessoas viajando em velocidades normais. Veja bem que isso não é viagem no tempo. Este passará mais lento para uns e mais rápido para outros. Tudo em relação à velocidade de deslocamento dos corpos no espaço. Por isso, por favor, não cite Einstein para a possibilidade de viagens no tempo. Isso não é possível, porque os viajantes mais jovens à velocidade da luz, ao final de sua trajetória não encontrarão a si próprios, apenas atingirão seu objetivo muitíssimo mais rápido.

Em seu banho, a água que caíu no chão se deslocou no espaço em uma determinada velocidade. O tempo pode ser medido mediante esses dados, o tempo é esse deslocamento da água. Qualquer uma das gotas d'água em seu banho não voltará a ocupar um espaço no tempo passado. Toda a água está noutro lugar no tempo presente.

Mas já que estamos abordando esse tema no início de um novo ano, lembremos que 2008 é só passado, não existe mais. Hoje, dia primeiro é tudo que temos para compreender os erros e acertos do passado e construirmos um 2009 muito melhor.

Vamos protestar contra a destruição dos nossos recursos naturais, a extinção em massa das espécies e todas as injustiças e desgraças sociais geradas por esse sistema capitalista.

Mudemos nossos hábitos e sejamos seres humanos muito melhores do que somos. Chimpanzés não destroem seu lar, por que nós “tão
sapiens” fazemos isso tão racionalmente?

Essa é nossa missão mais importante na atualidade!!!

Não desperdice seu tempo, viva seu presente e seu espaço, construa o futuro aqui e agora!!!

Nesse nosso banho de Tempo!!!
CHUÁ!!!

9 comentários:

Unknown disse...

Eis o tempo, temos de desmistificá-lo! Percebo que em física, há muitos termos que não utilizamos em nosso dia-dia, embora ache que também esses termos para o conhecimento cotidiano se tornariam bastante simplórios. É uma tentativa de aproximar a população da ciência, mas didaticamente a física ainda tem de cotidianizar seus modelos de explicação do mundo. Essa maravilha que perdemos boa parte da evolução ontogenética para conseguirmos compreender o que de fato é, ou não é.

Waltécio disse...

Verdade, Allyson!

Eu confesso que muita coisa da Física até hoje eu não entendo direito. Por exemplo, a Teoria das Cordas e a hipótese de universos paralelos em uma cabeça de alfinete... Não é a imaginação das proposituras, mas a forma que tentam explicar.

Um amigo meu (Eduardo, Física - UFPB) certa vez me falou que um leigo muito dificilmente entenderia por completo as teorias da Física moderna, porque todas elas são modelos matemáticos.

Ele começou a explicar melhor assim: "as supercordas são na verdade deduções matemáticas. Começemos pela equação de Maxwell..."

Quando ele começou a riscar o guardanapo com números tão estranhos (parecia coisa de alien) pedi para parar, enchi o copo de cerveja bem gelada e propus um brinde à Biologia e Teoria da Evolução... rsrsrs!!! Ele ficou uma fera, chamou todos os biólogos de burros!!! rsrsrs!!!

Meu grande amigo Eduardo!!!

Para ter uma idéia da matemática usada só por Maxwell olha na Wikipedia:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Equa%C3%A7%C3%B5es_de_Maxwell

Eu aprendi um pouco de física lendo Carl Sagan e Stephen Hawking. O pouco que ficou satisfez minhas perguntas, embora gostaria ainda de entender como universos paralelos aos nossos poderiam estar todos comprimidos e concentrados em um espaço do tamanho da cabeça de alfinete... rsrsrs!!!

Quando a inspiração vier, ainda vou exemplificar e escrever aqui sobre as hipóteses do fim do universo. Todas são horríveis para vida como a conhecemos. Embora sejam questões práticas apenas em bilhões e bilhões de anos no futuro.

Por enquanto, estamos nos deslocando na curvatura do espaço-tempo!!! Um banho de Tempo-Espaço!!!

Um grande abraço meu amigo,

W.

E.R.F. Medeiros disse...

Obrigado por lembrar do que eu disse! Aliás, fico muito feliz em descobrir que algo que eu disse sobre física tenha tido algum significado pra você, mesmo que esse significado seja que o significado não é fundamental.

Quanto ao tempo... Se o tempo é a medida do deslocamento no espaço (excelente interpretação aliás, pois já sabemos há bastante tempo que o tempo e o espaço são exatamente a mesma coisa: o espaço tempo); então o que é o tempo para um observador em um referencial que se move à velocidade da luz? Qual a importância dessa pergunta? Sabemos que o tempo passa mais devagar para os observadores que se movem mais rapidamente. O ápice desse fenômeno é a parada total e completa do relógio como visto por um observador na velocidade da luz. Sua definição de tempo ainda vale? Quero dizer... O objeto se move através do espaço... Bastante até. Mas o tempo não passa para ele, em absoluto.

Será o tempo um conceito inatingível como tantos outros em física? Ou será que a sua definição de tempo não vale para o fóton? Ou será que o tempo simplesmente não faz mais sentido, uma vez que o "observador", o cronista das desventuras do tempo, o ser humano que dá sentido às coisas... Aquele que formula a definição, está simplesmente proibido de atingir a velocidade da luz?

Talvez definir seja mais uma arte que uma ciência.

Eduardo, Física - UFPB

Waltécio disse...

Meu grande e querido amigo, Eduardo (Gandalf)!

Hehehe, você é meu amigo "Stephen Hawking" do Heavy Metal!!!

Cara, ando com tantas saudades tuas que quando te encontrar se prepara para o abraço... rsrsrs!!!

Agradeço demais da conta pelo seu comentário, afinal, você é o professor de Física mais autêntico e versado que conheci pessoalmente.

A definição de tempo que tomei aqui serve apenas para nós animais e corpos da matéria acima dos átomos.

A parte quântica é outra história. Se fosse fácil falar das regras tanto para o universo macroscópico, quanto para o dos átomos e particulas quânticas teríamos uma teoria de tudo há muito aceita.

Mesmo que você Físico saiba há tempos que espaço e tempo são as mesmas coisas, essa idéia não está difundida entre as massas. Foi por isso que tentei exemplificar isso aqui, usando uma metáfora cotidiana como o chuveiro em um banho.

É o objetivo desse Blog, além de me manter animado, suprir a necessidade daquelas nossas conversas que tinhamos com freqüência no passado.

Meus amigos por aqui no Crato não são muito ligados na ciência, embora usufruam o cotidiano com máquinas e confortos da tecnologia aplicada.

Em fevereiro estarei de volta na PB, espero te encontrar, ok?! Quem sabe reunamos os Lunáticos, ou mesmo os Quatro Elementos novamente?!

Eu coloquei no Orkut o guardanapo com as regras da Confraria. Documento histórico aquele, viu?!

Vou nessa!

Abraço, meu velho amigo!

Waltécio disse...

Ah, Eduardo! Adicionei seu Blog na lista de links aqui no Macaco Alfa.

Abraço,

W.

E.R.F. Medeiros disse...

Hehehe... Eu tenho até sonhado com um encontro nosso à moda antiga. Foi mal se parece gay, mas você deve entender que os lunáticos/quarteto/death garden/etc supriam necessidades praticamente fisiológicas.

Eu entendi o que você quis dizer, mas achei válido, pelo bem do rigor e pra ajudar a divulgar o conceito formal, ilustrar o seu argumento.

Ah!, agradeço fortemente pelos elogios.

P.S.: Pô... Meu Blog? Tô só testando a parada. Gostei do que você tá fazendo, se eu tiver alguma idéia interessante, vou IMITAR!

E.R.F. Medeiros disse...

Além do que, aparentemente esqueci de comentar, queria reforçar que a tentativa de construir muitos conceitos rigorosamente físicos, entre estes o conceito de tempo (assim como energia, spin, etc), invariavelmente recai em um argumento cíclico. É impossível fazer uma definição independente, única e suficiente.

Mas isso não é problema da física. Se fosse passaríamos a vida fazendo epistemologia e filosofia da linguagem e não saberíamos nada de concreto sobre o universo.

Então usamos esses conceitos como operadores matemáticos nas equações, mesmo que não sejamos capazes de criar uma definição apropriada. Daí vem aquela história que você relembrou de que o leigo, ou o cidadão sem experiência matemática não poder nunca entender a fundo a física.

Espero você aqui ansiosamente.

P.S.: Alexandre até esteve por aqui esses dias e me chamou pra tomar umas com o Quick, mas tive problemas "pessoais" e não pude comparecer.

Getulius disse...

Só um comentário de ordem pessoal: lembra de quando você quase se afogou uma vez que fomos ao mangue e, como não sabia nadar, consegui dois tocos, pusemos embaixo dos seus braços, e você gritava na água no escuro (maior zueira!), enquanto eu nadava e te empurrava pra outra margem: "eu sou uma merda boiando!" (kkkkkk). Então, o IBAMA foi dividido por MP em 2007, e eu, como merda boiando na correnteza, fui levado para o ICMBio, que chamamos carinhosamente de Chibio. Participei dos movimentos contra a divisão, fiquei me sentindo roubado e órfão de instituição por um tempo, mas atualmente estou tranquilo, e até acho que algumas coisas melhoraram.

Waltécio disse...

Putz! Como lembro!!!

Passamos um braço de mangue na maré baixa e na volta a maré alta mostrou o tamanho das águas naquele ponto do estuário. Parecia até cena do filme Na Natureza Selvagem.

Eu falei: "pode ir pra casa, eu durmo aqui até a próxima maré baixa".

Aí veio a sua idéia... Cara, arrisquei minha vida em diversas vezes, parece até predestinação não ter morrido... rsrsrs!!!

Quanto ao IBAMA, vê se não se apega à instituição, é apenas um emprego e ele não deve pautar suas ações, ou mesmo definir qualquer parte do que você é. Tenho o mesmo problema aqui na URCA, depois de tanta luta política e muitas vezes pessoal, "desencanei". É desgastante demais, além das funções e resultado delas não comporem meu interesse como pessoa, tão pouco como pesquisador.

Passei um bom tempo observando em silêncio como a URCA se modifica no tempo. Entendi que é uma instituição pública com suas idiossincrasias regionais e funcionamento quase automático.

Posso até me tornar um dos bons pró-reitores da hístória da URCA, mas é apenas isso. A instituição caminhará com ou sem mim. É algo efêmero e passageiro (sem marcas duradoras para o futuro).

No cotidiano, acho melhor centrar a vida na rede de humanos que estão conectadas positivamente à nossa vida: família, amigos e interesses que dão paixão aos nossos corações.

Estou revendo até meu projeto de pesquisa e já escrevo o meu artigo de finalização do que faço hoje com parasitas.

Penso em algo muito diferente ainda para esse ano. Muito provavelmente voltarei para biologia teórica. Meus orientados me substituírão na parte dos parasitas.

Campo agora será apenas para lazer ou aulas (sem coletas).

Abs,

W.

 
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