terça-feira, 25 de novembro de 2008

Sociologia da Ciência



O mito da ciência exclusivamente objetiva e dos estereótipos de cientistas alheios ao mundo, enfurnados em laboratórios e até misantropos são ficções completas.

Responda a uma simples pergunta:

No seu aprendizado em ciências, quantas hipóteses, ou cientistas da Rússia, ou Índia você conheceu no ensino médio, ou na graduação(*)?

Nos livros de ensino médio e na graduação das faculdades de ciência imperam pesquisadores anglo-saxônicos (ingleses e americanos), germânicos e alguns poucos outros europeus.

Será que a ciência possui endereço geopolítico?

Isso sem contar em quantos músicos, romancistas e poetas não conhecemos de países em desenvolvimento, ou aqueles fora do eixo do poder.

Compreender isso é muito importante até mesmo para a mais simples pessoa. Implica em dizer que se você estiver em um determinado lugar sem prestígio e tradição naquilo que você faz, muito provavelmente irão te ignorar. Seja você um exímio pesquisador, ou um dos mais talentosos músicos.

Eu sou professor de uma pequena universidade estadual no interior do nordeste (Universidade Regional do Cariri - URCA), em meio à região do Semi-Árido, cuja história de exploração humana, abandono social, intempéries da natureza e êxodo humano são características históricas e sócio-culturais.

Oriento alunos inteligentes (graduação e mestrado) e conto com a colaboração de jovens professores pesquisadores de outras universidades (UFC, UFRN, UFPB, UEPB, UFPE, Unesp e UFRJ). Mesmo assim, é difícil um lugar ao sol.

Fazemos o dever de casa, reservamos os melhores resultados de nossas pesquisas e publicamos nas melhores revistas nacionais (p.e.,
Brazilan Journal of Biology) e internacionais (p.e., Parasitology Research). Mas, sabemos da resistência que existe de nossa participação na construção do conhecimento.

Não falo de uma "conspiração" do silêncio, tipo daquelas que Cuvier fez contra Lamarck. Escrevo para registrar que há sim uma visão social do poder na ciência. Então, é mito e estereótipo que cientistas sejam alheios à natureza humana. Como em qualquer empreendimento humano, o poder se estabelece em qualquer uma de suas relações, ciência, ou arte... qualquer uma.

Se você é um universitário norte-americano, aproveite os bons ventos que sopram fortes em sua praia. Eu sou brasileiro de região pobre... terei que me esforçar a vida inteira para sentir, quem sabe, uma leve brisa em meu mar.

É a vida difícil e injusta!!! A sociologia da ciência explica!!!

(*) Exemplos de pesquisadores de sucesso dos países citados:

Alexey N. Dmitriev - Professor de Geologia e Mineralogia, Siberian Department of Russian Academy of Sciences. Expecialista em Ecologia e Eventos Globais.

Narinder Singh Kapany é um físico indiano, conhecido como o inventor da fibra óptica... os cabos de internet que permitem este Blog chegar até você... foi um indiano quem criou!!!

2 comentários:

Thomas M. Simons disse...

A memória humana não é algo muito confiável, e sou bem humano. Contudo, lembro-me do Miguel Nicollelis -- em palestra na cidade de São Paulo --, dizer que ele não teria oportunidades para desenvolver sua pesquisa no Brasil naquela época [anos 80 ou 90]. Resultado: foi para a Duke University (e se deu muito bem).

Segundo ele, o Brasil dos anos 2000 está bem mais favorável -- e ele tem dado contribuições positivas neste sentido como o IINN --, mas acredito mais persistência e mais luta são necessárias em nosso país quando comparado com país que investem um percentual maior do PIB em ciência e tecnologia (C&T).

Lembro-me também de um gráfico percentual do PIB em C&T por país, na aula de Maurício Tuffani, dentro do curso de Divulgação Científica da USP. Nações desenvolvidas gastam percentuais maiores (e olha que o PIB delas já é alto).

Mas, aí saímos de Sociologia da Ciência e entramos em Política Científica (que estão positivamente correlacionadas, mas é uma outra história).

Waltécio disse...

Isso é uma verdade, Thomas! Nosso país em 2000 caminhou muito se comparado a décadas atrás.

No "ranking Web of World Universities - 2009" temos hoje 12 universidades brasileiras entre as 500 melhores do mundo. Nessa lista, apenas duas estão fora do eixo Sul-Sudeste: 419 lugar a UFRN e 422 a UFBA.

É um grande progresso contar com a USP em 38 lugar e a Unicamp em 115.

Mas... as dez primeiras universidades do mundo, sem tirar de dentro são norte-americanas!!!

Fonte: http://www.webometrics.info

Eu também tenho amigo que foi cursar doutorado fora do país e preferiu devolver o dinheiro da CAPES a voltar. Ele está no Marine Science Institute da University of Texas.

Tenho outro amigo que fez doutorado em Cambridge com duas publicações na Science e até hoje vive de bolsa DCR!

O problema para mim, você, todo mundo é essa "espera" por maior investimento em educação e C&T neste país.

Como canta a Plebe Rude: "Até quando esperar?"

Obrigado pelo comentário proveitoso e bastante informativo!

Um grande abraço,

Waltécio

 
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