sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A Trilogia das Mulheres: Apresentação

Eu estou no meio do semestre e as obrigações como professor começam a tomar meu tempo pra valer. Além das aulas e orientações na graduação e mestrado, vem elaboração de provas, correções, avaliação de reposição, entre outras atividades.

Desde o semestre passado, ao invés de passar seminários sobre evolução e comportamento humano, assumi exclusivamente esse assunto como parte integrante da disciplina. Agora, ao invés de trabalhos, haverá provas sobre esses temas.

Por estar preparando as aulas, é exatamente aqui que decidi esboçar três textos completos para sintetizar o poder feminino, a seleção sexual e a perplexidade dos machos perante a sua efemeridade. Eis a trilogia das mulheres.

É um assunto instigante, faz parte das minhas curiosidades e percepções de adolescente. Coisas que eu perguntei a mim mesmo em um "por que o mundo é assim?" Isso também se referia as meninas, as quais tanto queria para mim, mas nem todas corresponderam ao meu desejo.

A resposta não era tão simples, envolve pesquisas sobre beleza, feiúra, personalidade, status e poder... Tudo para explicar para nós homens por que o mundo feminino é assim.

Nós temos comportamentos definidos por uma base genética e outra sócio-cultural. Dizem ser 50% de um, 50% de outro... mas a medida certa de distribuição disso nunca foi comprovada. Claro, não somos robôs genéticos, ou culturais. Não existe tábula rasa, ou o bom selvagem de Rousseau, mas há uma clara lógica comportamental feminina que nós homens sabemos muito bem, embora tenhamos tentado esconder isso de nós mesmos por séculos.

Para além das bases genéticas de nossos ancestrais que tinham um núcleo social poligâmico, os homens sempre tiveram medo do poder feminino. Cliterotomias, cintos de castidade, apedrejamento em praça pública e burcas islâmicas... Os homens usam a linguagem da violência para expressar sua fragilidade, sua tolice porque foram "enganados"... porque elas são tão inteligentes, ou mais ainda do que eles... porque elas ditam as regras... porque elas tem o poder da seleção em suas mãos, nos ovários e nos úteros. Tudo do estro muito bem escondido de nós.

Tenho 37 anos de idade, não sou o mais sábio entre os homens, nem tão pouco sou, ou fui o mais desejado. Reconheço-me um macho médio e deveras ordinário. Estranha é a referência que usarei agora para finalizar esta apresentação. Sobre os assuntos que irei postar nos próximos três textos, a música "Mulheres" de Toninho Geraes e conhecida nacionalmente através da interpretação de Martinho da Vila, é o que mais simboliza o significado de ser um homem:



Bem vindo à Trilogia das Mulheres!

Aos homens, cuidado com os próximos textos, podem causar depressão. Às mulheres, deixo minha admiração, amor e lágrimas.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Teoria e prática


Iniciei meu mestrado em 1997. O projeto no qual eu trabalhava minha dissertação era sobre a evolução dos animais metaméricos. Eu pesquisava com literatura científica, analisava as descrições de todas as espécies alvo de meu projeto (poliquetos marinhos), montava matrizes pictóricas, construía hipóteses de homologias primárias, codificava tudo, construía uma matriz de dados com o programa TreeGardener(*) e realizava análise filogenética com o programa Hennig86(**).

Meu orientador fazia o mesmo à exceção do uso dos programas para análise filogenética, isso, na época, era coisa só minha no Laboratório de Filogenia dos Metazoa da UFPB. Tanto Martin, quanto todos os seus orientandos eram reconhecidos como biólogos teóricos. Nós construíamos novas hipóteses evolutivas para resolver problemas presentes na evolução dos animais.

A disciplina Zoologia de Campo foi um dos eventos mais divertidos e encantadores de minha formação. Todos os professores do programa de pós-graduação ministravam sua parte nela. Levou quase um ano para fechar, começamos coletando animais marinhos e depois fomos para a Reserva do Brejo dos Cavalos, Caruaru – PE. Por três dias ficamos lá aprendendo técnicas de coleta de peixes de água doce, insetos (diurnos e noturnos), aves, morcegos, pequenos mamíferos, répteis e anfíbios.

Era um final de tarde e nós mestrandos (eu, Marcos, Élvio, Rocha e Gildo), após as atividades de campo, fomos tomar banho na pequena represa do rio. Os professores Alfredo Langguth e Ricardo Rosa eram os responsáveis pelas aulas daquele dia.

Entendam a situação: eu teórico em uma disciplina de campo. Pegaram a idéia? Biologia teórica vs. biologia de campo... Sinal de conflito iminente.

Conversa vai, conversa vem, então Langguth virou para mim e perguntou:

-"
Olha que coisa linda essa floresta, você não está vendo o quanto tem a fazer no campo? Você não sente falta disso em seu trabalho? O que você pode dizer sobre tudo isso a sua volta se nunca estivesse aqui?"

Eu respondi prontamente:

-"
O que você vê foi teorizado, as coisas vivas descritas e por serem ainda estudadas só fazem sentido se alguém propor hipóteses sobre elas. Para mim tudo aqui pode ser representado com cladogramas, eles sim são a forma verdadeira de ver. Tudo aqui não passa de cladogramas para mim."

Na época a avaliação das disciplinas era expressa por conceitos de A até C.

Todos tiraram A... menos eu, porque fiquei com um B.

Reclamei do conceito B com o coordenador do programa, não achei justo. Entretanto, hoje concordo com a avaliação de meu desempenho e entendo o que Langguth estava tentando me ensinar.

Claro, teoria e prática andam juntas, são complementares e necessitam uma da outra. Todavia, no dia a dia dos laboratórios isso não é bem assim. Há físicos teóricos e matemáticos aplicados, cientistas e engenheiros, ecólogos teóricos e zootecnistas, etc. Profissões com ênfase ou em teoria, ou em aplicabilidade.

Eu me tornei exceção! Em meus trabalhos sobre evolução eu sou um teórico, nos trabalhos sobre a sistemática biológica e ecologia de pentastomídeos e onicóforos eu sou um biólogo de campo.

Já escrevi três posts sobre os trabalhos científicos que desenvolvo:
Quando eramos vermes
Hipóteses
Implicações

A parte teórica me trouxe alegrias, porque além de serem meus artigos de maior repercussão, em termos de citações, são meus esforços mais ambiciosos até agora.

Aqui estão os meus principais artigos sobre evolução:
http://www.jstor.org/pss/3285745
http://www.scielo.br/pdf/rbzool/v20n1/v20n1a06.pdf
http://www.biotemas.ufsc.br/volumes/pdf/volume213/p81a90.pdf

A parte de campo é muito importante para mim, pois me levou ao encontro e compreensão da natureza em lócus. Tenho visto toda a glória do mundo em locais belíssimos como a Chapada do Araripe, a Mata Atlântica e a Caatinga.

Aqui estão os meus principais artigos sobre a biologia, sistemática e ecologia de pentastomídeos e onicóforos:
http://www.springerlink.com/content/a658743u644wm235/
http://www.scielo.br/pdf/bjb/v66n2a/a23v662a.pdf
http://www.scielo.br/pdf/bjb/v66n4/21.pdf
http://www.scielo.br/pdf/bjb/v66n1a/28993.pdf
http://www.scielo.br/pdf/bjb/v67n4/24.pdf
http://www.scielo.br/pdf/bjb/v68n1/a28v68n1.pdf
http://www.scielo.br/pdf/bjb/v68n1/a29v68n1.pdf
http://www.scielo.br/pdf/bjb/v68n2/a28v68n2.pdf
http://www.scielo.br/pdf/bjb/v68n3/a19v68n3.pdf
http://www.biotemas.ufsc.br/volumes/pdf/volume212/p161a163.pdf
http://www.biotemas.ufsc.br/volumes/pdf/volume212/p165a168.pdf

Hoje aos 37 anos de idade me sinto feliz por tudo isso que fiz. Agora no caminho para meus 40 anos espero me dedicar completamente à ciência, seja ela teórica, ou aplicada.

Tirei um merecido “conceito B” na disciplina de Zoologia de Campo, mas aprendi com o prof. Langguth como alcançar meu “conceito A”, 11 anos depois!!!

Para encerrar, permitam-me citar uma passagem da música “Dias de Luta” da banda Ira:

Só depois de muito tempo
Fui entender aquele homem
Eu queria ouvir muito
Mas ele me disse pouco...

Dito e feito!!!
Teoria e prática, dois lados da mesma moeda.

(*) Hoje uso o MacClade para construir minhas matrizes.
(**) O programa que uso hoje para análise filogenética é o PAUP.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Como uma onda no mar


Quando comprei o "Livro de Ouro do Universo" (Mourão, RRF., 2000. Editora Ediouro) e comecei sua leitura vi a admiração do autor pela música de Lulu Santos. No início não gostei da dedicatória e das referências, porque nunca fui grande fã do Lulu, mesmo que minha geração tenha sido profundamente influenciada pela música dele.

Por outro lado, meu primo Jorge Filho (chamado por todos de "Jorginho") era um fã de carteirinha do Lulu, em especial da coletânea "O Último Romântico" (1987). Jorginho teve problemas de depressão e alcoolismo, todos gostavam dele, mesmo nos momentos mais difíceis. Ele morreu de um derrame cerebral, sentado e bêbado, escutando Lulu Santos. Acho que é por isso do meu não gostar das músicas do Lulu, lembram demais meu primo e amigo Jorginho, lembram a tristeza dele, o vício e a morte.

Hoje me peguei escutando "Como Uma Onda no Mar", reconheço que é uma música brilhante. Traz tudo que meu cérebro gosta de lembrar: os amigos, os amores, as roupas, a chuva da década de 1980. Dá até para lembrar dos cheiros das ruas e dos sabores da comida desse tempo passado. Sem contar que é a música com percepção cotidiana da Teoria da Evolução mais popular que conheço.

Nada do que foi será do jeito que já foi um dia. Verdade, pois a história não se repete!

Eu sou o litoral de minha existência, por isso, interpreto as pessoas como ondas. Elas vêm até a mim e depois se vão. Por sua vez, em outros litorais diferentes do meu, assumo o papel das ondas, vou e volto, nunca permaneço para sempre. Tudo passa, tudo sempre passará.

Essa fluidez do tempo que passa a existir apenas em recordações borradas em nossas cabeças foi decisiva para Sartre ir além de Heidegger, a existência humana sem definição pelo tempo (leia o post Um banho de Tempo ), fragilizada pelo Nada nauseante.

Próximo dos 150 anos da publicação do livro "A Origem das Espécies" de Charles Darwin, hoje há o reconhecimento da Evolução como um processo inerente à vida, seja neste planeta seja em qualquer outro com condições para tal.

A Evolução é considerada por muitos como uma Metateoria para além dos sistemas biológicos. Por exemplo, Karl Popper (1976) defendeu a idéia de que assim como os seres vivos, hipóteses científicas competem entre si e apenas as mais "aptas" aos fatos observados sobrevivem através do tempo. Ou seja, a Ciência evolui!!!

Mourão no "Livro de Ouro do Universo" não cita uma obra chamada "The Life of Cosmos(*)" de Lee Smolin. Neste livro é apresentada a idéia de que tudo muda segundo as leis da evolução e tudo compreende o universo inteiro. Para Lee Smolin a evolução é um fenômeno cosmológico!

Mesmo assim, apenas pela citação da música do Lulu Santos, a evolução está lá no "Livro de Ouro do Universo". Sinto-me satisfeito com isso.

Ademais, escutar uma música é algo fascinante, neurologistas afirmam que "quando a música se dissolve no êxtase, ela nos transporta para um lugar abstrato, distante do mundo físico que, normalmente, ocupa nossas mentes" (Jourdain, 1998: 24).

No final da "Náusea" de Sartre (1938), Roquentin pensa ao escutar uma de suas músicas favoritas, após uma falha no disco:

"Também isso eu compreendo: o disco se arranha e se gasta, a cantora talvez esteja morta; eu vou embora, vou tomar meu trem. Mas por trás do ente que cai de um presente para o outro, sem passado, sem futuro, por trás desses sons que dia a dia se decompõem , se lascam e deslizam para a morte, a melodia permanece a mesma, jovem e sólida, como uma testemunha implacável."

É o mesmo que eu sinto agora escutando a música de Lulu Santos, ora mergulho no universo, ora em meu passado. Observo todas as mudanças de ontem e estas agora que estão para acontecer hoje. Semelhante a Roquentin estou na estação do trem, vou embora, ou até mesmo já fui para muitos que conheço. Volto para o mar como uma onda, ou fico em meu litoral observando todos num indo e vindo infinito.

Aos amigos ausentes, aos amores perdidos, aos antigos deuses, à estação das brumas!!!

(*) Comprei a primeira edição brochura importada em 1998. Esse livro só foi traduzido e publicado no Brasil em 2004 pela Editora UNISINOS.

sábado, 17 de janeiro de 2009

O jogo da existência


No post "A mesma velha e nova coisa" expus minha inquietude sobre a onda relativista e do fim de todas as coisas proclamado pelos pós-modernistas do final do século passado. Nesse post também escrevi que meu orientador, Martin Lindsey Christoffersen, andou lendo muito sobre pós-modernismo no final da década de 1990.

Bem, em uma de nossas conversas no Laboratório de Filogenia dos Metazoa (Universidade Federal da Paraíba), certa vez Martin me questionou assim:

"Há questões filosóficas complexas, por exemplo, a existência humana. Precisamos de um referencial crítico para que possamos existir. Por exemplo, você existe neste mundo de pessoas que te conhecem e comprovam a sua realidade, mas em outro país, ou mesmo cidade, você é desconhecido entre milhões de pessoas, por isso, nesse mundo... você não existe! Se existir é relativo, então como nós podemos de forma absoluta responder que existimos?"

Eis o jogo da existência: bola em campo!

Confesso que fiquei chocado com essa pergunta, tanto que olha eu aqui a escrever sobre isso mais de uma década depois!!! Não lembro nem do que estávamos conversando naquele momento, mas a possibilidade de minha não-existência permaneceu sólida e cristalina através dos anos que passaram.

Eu sei que o relativismo dos pós-modernistas é apenas discurso retórico, muitas vezes repleto de termos científicos citados de forma equivocada, dos quais, entre os preferidos, posso citar caos, mecânica quântica, sistemas e a teoria dos conjuntos.

Sobre esse assunto, quem desejar ler mais a respeito, recomendo a leitura do livro:

Sokal, AD. e Bricmont, J., 2006. Imposturas intelectuais: o abuso da ciência pelos filósofos pós-modernos. Editora Record.

Sobre a questão expressa por Martin, digo que eu e ele existimos sim, tanto quanto as paredes deste quarto que estou. Questionar a realidade apenas por retórica é gerar discurso pelo discurso.

Mesmo assim, eu passei a ter um cuidado especial com a existência. Ou seja, em um mundo de 6,5 bilhões de humanos, existir para a humanidade passou a ser um grande desafio. Humanos universais em diferentes áreas formam uma minoria de eleitos, macacos alfa sublimes!

Não estou me referindo a uma classe social, ou sistema político específico, falo dos grandes vultos da humanidade, algo como Charles Darwin.

Da mesma forma, não estou abordando à fama simples e pura. Ser famoso não garante reconhecimento algum, sem contar que fama é um tipo de "moda", algo popular em um determinado momento. Como toda "moda", a fama vem e vai, estrelas tão famosas de hoje podem ser completamente esquecidas em meses.

Novamente, estou me referindo a algo como Charles Darwin. Ele não é moda, ou fama... foi e é um dos maiores humanos de nossa história.

Como chegar a um patamar existencial dessa natureza? Primeiro, o melhor caminho é a despretensão, pois desconheço a história de um grande vulto vivo, ou morto que dimensionou a expansão de sua existência para toda a humanidade. Segundo, criar uma contribuição significativa para um determinada área, porque ninguém é reconhecido pela humanidade por ter espasmos de ócio e assistir TV.

Isso pode ser desinteressante para alguns, ou soar pretensioso para outros, mas está no porão de todas as ações humanas em nossa volta. Por exemplo, na busca pelo reconhecimento, alguns forçam bastante a barra... rsrsrs!!! Só porque alguém terminou uma faculdade em Artes, não quer dizer que seja um artista, da mesma forma os auto-intitulados cientistas e filósofos, que deveriam se identificar como professores dessas áreas.

Adjetivos magnos como artista, cientista e filósofo são resultado de reconhecimento da atuação e obras realizadas. Não existe uma receita, ou genética para isso acontecer. Há sempre uma história muito particular que reúne curiosidade, criatividade e empenho máximo naquilo que se constrói.

A escolha do tema abordado também poderá definir o tamanho que sua existência poderá alcançar. Por exemplo, eu sou hoje um dos maiores especialistas em pentastomídeos (parasitas) do mundo (*). Entretanto, o interesse no assunto que eu pesquiso e escrevo é restrito a poucas pessoas.

O maior especialista atual em pentastomídeos é John Riley, Universidade de Dundee, Escócia. Há outros que possuem interesse nesses animais como Dieter Waloszek, Universidade de Ulm, Alemanha. Entretanto, Dieter é paleontólogo e não trabalha com pentastomídeos recentes, nem tão pouco está dedicado apenas aos estudos desses parasitas. John Riley é o único na atualidade que dedicou sua vida profissional inteira ao estudo dos pentastomídeos em todos os aspectos possíveis (sistemática, embriologia, ecologia e história natural). No meu caso, só peguei um pequeno pedaço para estudo: a evolução e biologia deles na região Neotropical.

Se um dia Riley e eu formos lembrados, será como autores de trabalhos sobre pentastomídeos, além dos graduados, mestres e doutores orientados por nós. Seremos lembrados por poucas pessoas!!! Afinal, pentastomídeos não fazem parte da fauna carismática como grandes gatos, macacos, baleias, etc.

Apesar disso, é muito satisfatório ver meus trabalhos citados aqui no Brasil e em outros países, trocar correspondência internacional, receber e enviar cópias autografadas. O pedido mais distante até hoje veio da cidade Kuala Lumpur - Malásia, feito por Hazreen Abdul Jabar, um orientado da professora Susan Lim Lee Hong da Universidade da Malásia.

Minha vida breve e a existência pós-morte não deverá ser magna como a de Charles Darwin, mas pelo menos eu existi na forma material da palavra e imaterial para aqueles que aprenderam, aprendem e aprenderão através de minha atuação no mundo.

Hoje responderia ao meu orientador: "Sim, Martin, nós existimos!"

Como em um jogo de futebol, passo a bola para você leitor: "tu existes?!"

(*) Semelhante a Dieter Waloszek, eu também possuo outros interesses científicos, além dos Pentastomida, tenho publicado sobre Onychophora, Nematoda e Polychaeta.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A desumanização do macaco



Antes de iniciar o tema deste post vou apresentar uma série de correções a um artigo do século XIX de Friedrich Engels (1876): "Sobre o Papel do Trabalho na Transformaçãodo Macaco em Homem". Meu objetivo é atualizar essas idéias e demonstrar como mudamos nosso conhecimento sobre nossas origens no século XX, ao mesmo tempo em que Engels continua atual.

Um upgrade!

Inicialmente, no século XIX não se tinha ainda descoberto fósseis de antropoídes bípedes como os Australopithecíneos e de outras espécies humanas (pe., Homo habilis, H. erectus, H. neanderthalensis, etc.) Sem essa informação, o nosso ancestral comum aos grandes macacos era imaginado por Darwin e Engels sendo algo semelhante a um gorila, ou um primata coberto de pelos e orelhas pontudas!

Sem fósseis, sem nossa idade geológica, sem o lugar de onde surgimos.

Hoje sabemos que surgimos no Pleistoceno logo após o surgimento das savanas africanas. Os fósseis humanos mais antigos estão na África e estudos com DNA mitocondrial demonstraram essa mesma origem africana.

Devido ao preconceito que existe contra as pessoas de cor (negros e amarelos) havia muito interesse em saber qual cor de nossa pele na origem de nossa espécie. Muitas pessoas ainda hoje não gostam dos resultados científicos que obtivemos: a primeira população humana na terra era negra!

A equação para o surgimento da diversidade em cor de pele e outras características humanas como olhos puxados, textura dos cabelos, são explicadas como adaptações humanas ao clima temperado e ártico. Sem contar a necessidade de absorver o máximo de sol possível para a síntese de vitamina D, conforme ocupávamos regiões frias como a escandinávia, onde o sol se ausenta por meses.

O bipedalismo, a pele glabra (na verdade com o mesmo número de pelos dos chimpanzés, só que os fios são delicados) e o máximo de glândulas sudoríparas podem ser interpretados como adaptações para o deslocamento nas planícies africanas, onde o que não falta é sol abrasador. A melanina da pele que lhe dar a cor escura é uma defesa contra raios ultravioleta, uma barreira natural contra câncer de pele e preservação do ácido fólico nas gestantes.

Nós não éramos arborícolas como escreveu Engels, desde os Australopithecíneos já habitávamos as planícies africanas. Guardamos sim características primitivas (simplesiomorfias), reflexos como o pé preensil dos recém-nascidos, a posição frontal dos olhos para visão binocular e mãos para agarrar.

O número de um grupo humano é por analogia semelhante aos caçadores-coletores africanos (pe., os Massai), não passa de 100 pessoas unidas por laços de família em todos os graus. Então, não havia "manadas" de macacos como escrito por Engels, mas sim grupos de no máximo 100 indivíduos. Eramos tão frágeis e sujeitos à extinção como hoje são os grandes macacos.

Há várias hipóteses para o surgimento do bipedalismo: (1) carregar alimentos com as mãos; (2) diminuir à exposição do corpo ao sol do meio dia com nossa posição vertical; (3) olhar além entre a vegetação das savanas para ter cuidado com os grandes gatos (nosso maior terror).

Faço até um parêntese sobre os nossos predadores. Notem como nós imaginamos nossos "monstros" e vilões, há sempre a presença de dentes afiados, garras e olhos com íris verticais. Ah! Somos animais diurnos, não enxergamos à noite, por isso nossos "monstros" e vilões sempre estão nas trevas a nossa espreita. Está em nosso subconsciente o terror de nossos predadores naturais.

Por fim, vem o uso de ferramentas que implica o surgimento do trabalho, segundo Engels, mas também incluo aqui da cultura, pois é um conhecimento aprendido e repassado de pais para filhos. Ferramentas são usadas pelos grandes macacos africanos e alguns casos relatados aqui no Brasil para os macacos-pregos (Cebus apella) da região nordeste.

Então, o uso de ferramentas e o bipedalismo em antropóides estão sim conectados com nossa humanização, mas não representam por si só a força motora da evolução de nossa espécie. São os eventos estocásticos e a seleção natural os responsáveis por isso.

Pedi a um amigo meu, Darlan de Oliveira Reis (professor de História), que definisse trabalho. Ele me repassou essa passagem de Marx:

"Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza. Desenvolve as potencialidades adormecidas e submete ao seu domínio o jogo das forças naturais."
(Marx, K., 1971. O Capital – Crítica da Economia Política. Vol. 1. Editora Civilização Brasileira).

Após a atualização descrita e definição do "trabalho", façamos uma síntese rápida da história humana:

(1) Aumento da cognição através do crescimento do cérebro por um evento estocástico (mutação) e seleção natural (mais inteligentes = maior aptidão).

(2) Maior cognição levou ao domínio do fogo e o incremento das ferramentas.

(3) A nova cognição e tecnologia (fogo e ferramentas) foram aplicadas no domínio da reprodução de plantas (agricultura) e animais (pecuária).

(4) A agricultura e pecuária do neolítico resultou na produção de bens em excedentes.

(5) As relações entre humanos e natureza passaram de caçadores-coletores para o agronegócio das tribos às civilizações mesopotânicas, do escambo ao dinheiro.

(6) Um grupo central de humanos, imbuídos da organização política e religiosa, apropriou-se do excedente e passou a explorar seus semelhantes: surgem os escravos.

(7) Revolução industrial resultou em trabalho assalariado e acúmulo de bens sem precedentes na história humana: surgem os explorados pelo capital.

Engels estava certo na propositura de que o trabalho foi um dos fatores que humanizou o macaco que somos. Contudo, o avanço cultural e tecnológico foi e é muito mais rápido do que a evolução de nossos corpos biológicos.

Nossa estrutura cognitiva é alicerçada em um mundo tribal pleistocênico. Nesse mundo tínhamos diferenças individuais, aptidões diferenciais, mas cuidávamos um do outro, dividíamos a comida e os bens da tribo (como a plantação de mandioca) eram de todos.

Temos aproximadamente 1 milhão de anos enquanto humanos, as civilizações surgiram cerca de 5.500 anos atrás, ou seja, apenas 0,5% de nossa história na Terra. Mudamos radicalmente o nosso mundo sócio-econômico em muito pouco tempo. O mundo cultural ficou impregnado por nossa vida tribal, que representa 99,5% de nossa história humana. Sem contar que este mundo industrial como conhecemos hoje tem apenas 200 anos (0,02% de nossa história).

O trabalho humano sobre à natureza hoje é uma forma de exploração assalariada em massa para acúmulo de bens de uma minoria.

Tenho a sorte de ter uma profissão que me dá prazer em exercê-la. Em meus trabalhos sobre evolução de animais metaméricos e ecologia de parasitas/ hospedeiros me realizo como ser humano e contribuo para a geração do conhecimento.

Todavia, se você vai para o seu trabalho com raiva, não apenas dele em si, mas da sua remuneração (que reflete o seu acesso aos direitos humanos para sobrevivência) alguma coisa está errada.

Em o,5% de nossa história passamos de igualitários para explorados e acumuladores de riquezas (muitas vezes apenas especulativas como o dinheiro). Destruímos ecossistemas, exterminamos espécies em massa, espalhamos pobreza e miséria em profulsão.

A humanização do macaco pelo trabalho gerou alienação no Capitalismo. Acho prudente sabermos de nossas origens e características biológicas. Um olhar para nossos irmãos chimpanzés deveria ser obrigatório para entendermos quem somos e qual a nossa missão neste planeta vivo, antes que só sobre apenas lixo e baratas como no mundo do robô Wall-E.

Após um upgrade dos dados sobre nosso conhecimento de evolução humana, nunca Engels foi tão verdadeiro quanto nos dias de hoje.

Talvez se estivesse vivo, Engels ficaria impressionado como conseguimos evoluir para um tipo de macaco tão desumano.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Ano Darwin


Em 2009 comemoramos 200 anos do nascimento de Charles Darwin e 150 anos da publicação do seu livro "A Origem das Espécies". Charles Darwin foi um dos mais importantes pensadores de todos os tempos. Sua teoria de evolução por seleção natural representou uma grande mudança no pensamento biológico, além de influenciar muitas outras áreas do conhecimento.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Leigos e cínicos

Acabo de reler um capítulo do livro "Evolução" de Mark Ridley (2006). Amanhã tenho que voltar à sala de aula e preciso tirar a ferrugem das semanas longe da lousa passado o recesso de fim de ano.

Uma frase nesse livro me chamou a atenção e motivou-me a escrever aqui novamente:

"
As homologias são, contudo, geralmente mais persuasivas para um biólogo formado do que alguém procurando evidências imediatamente inteligíveis da evolução".

Para lembrar antes de prosseguir: "homologias são semelhanças em estruturas provindas de descendência". Por exemplo, todas as "semelhanças" de nossos pêlos (de ordem molecular, genética, estrutura, morfológica e fisológica) encontradas em todos os mamíferos é resultado de nossa história evolutiva comum. Nós e todos os outros mamíferos temos um ancestral comum com pêlos, simples assim.

Olhe no espelho para sua face, os tipos de dentes que você possui (a chamada heterodontia), a posição de seus olhos, as narinas, as orelhas, o polegar oponível de sua mão, veja seus pés pentadáctilos, suas mamas (funcionais, ou não), seu sexo e suas partes pudendas, o roncar de sua barriga com fome, os instintos básicos de sobrevivência.

Tudo é compartilhado com outros seres. Como não fazemos fotossíntese, temos uma proteína chamada colágeno, um corpo organizado por tecidos verdadeiros... nós somos animais!

Ok, nada de novo! Está tudo na mais pura ingenuidade da descoberta de si próprio.

Entretanto, vocês se assustariam com a quantidade de pessoas que não possuem essa simples constatação, seja pela falta da informação básica, ou o cinismo por tê-la e ignorá-la.

No primeiro caso, compreendo que em países e regiões do mundo com graves problemas de sobrevivência as pessoas devem focar seus esforços em resolver suas necessidades mais urgentes. Por exemplo, não é fácil estar agora na Faixa de Gaza, não é?! Compreensível se a maioria da população de lá neste momento esteja centrada em sobreviver à guerra e política de embargo realizadas por Israel.

Estabilizados a paz, o respeito e cumprimento dos direitos humanos, voltamos ao nosso problema. Ter consciência, mesmo que ingênua, da nossa natureza animal trás várias conseqüências diretas para nosso dia-a-dia. Não se iluda, claro que o humano é motivo da maioria das pesquisas, ou justificativa máxima para quase todas elas, das Artes até a mais pura Matemática, tudo que procuramos está voltado de alguma forma para nós mesmos.

Animais nós somos, então também temos comportamento e instintos animais!!! "
Santa ingenuidade Batman"!!! rsrsrs!!! Verdade, novamente nada de novo!

Diferente dos "leigos" por falta de acesso à informação, o que me deixa mais intrigado são os humanos letrados espalhados pelas regiões ricas e imperialistas. Essas pessoas em sua maioria têm essas noções básicas de si próprias. Mais ainda, estão consumindo muita divulgação científica. Livros escritos sobre comportamento humano são Best Sellers pelo mundo desde o clássico de 1967 intitulado "O Macaco Nu" de Desmond Morris. Exemplos recentes e com muito humor constituem a "Culpa é da Genética" (Terry Burnham e Jay Phelan, 2002) e "Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor?'' (Allan Pease e Barbara Pease, 2000), pois venderam milhares e milhares de exemplares pelo mundo afora. Os leitores desses livros tem acesso a informação básica e poderiam enxergar seu cotidiano de forma diferente.

Li alguns livros de divulgação científica (veja lista nas Referências deste Blog), o suficiente para ter uma opinião sobre o humano em geral (não em detalhes individuais).

Minha opinião é que vivemos em uma era de puro cinismo, não pode ser diferente!

Por exemplo, no livro "Eu, primata" o etologista Frans de Waal narra que chegou a participar de um grupo de trabalho em Washington - EUA, o qual envolvia antropólogos, psicólogos, cientistas políticos e representantes do Pentágono para discutirem uma nova ordem mundial após a queda do muro de Berlim. Havia um clima de que os Estados Unidos eram e continuariam no futuro a ser a única superpotência mundial. De Waal alertou para o perigo de um país com apenas 4% da população mundial passar a se portar assim, com ares de um império tirânico, porque, segundo a Teoria das Coalizões em chimpanzés, os machos alfa ruins são derrubados pela união de todos os seus oprimidos.

Há lógica compreensiva e base científica nessa afirmação, mas, segundo Frans de Waal, não levaram isso a sério. Veio a guerra do Iraque e de repente os americanos virão algo impensável até então: França, Rússia, Alemanha e China proclamaram sua oposição a essa guerra, uma coalizão impensável em 2003. Hoje podemos dizer que quase todos os países do mundo, sobretudo os em "desenvolvimento", repudiam a atitude e os atos desumanos dos americanos. A recente sapatada pelo jornalista iraquiano Muntazer al-Zaidi no presidente Bush foi aplaudida nos quatro cantos do planeta.

Agora pensem vocês, esse conflito poderia ser evitado se os americanos tivessem aprendido a se portar como verdadeiros macacos alfa, assim como nos chimpanzés!!! Líderes de verdade são mediadores eleitos pelos seus pares, não tiranos arrogantes. Resultado, o sucessor de Bush perdeu feio as eleições para o mundialmente aclamado Barack Hussein Obama.

Não é apenas de guerras que estou me referindo, porque está disponível para todos hoje os resultados de pesquisas que vão desde o uso do salto-alto pelas mulheres ao silêncio dos homens no banheiro.

Todavia, os leitores dessa informação se comportam como se observassem de longe, fora de suas vidas, ou como visitar a jaula dos macacos no zoológico em pleno domingo. É muito estranho ver esse tipo de cinismo do "eu sei, mas isso não é comigo", ou melhor "como banana, mas isso é coisa de macaco e não minha".

Como não és animal? Por acaso tu não téns mais pâncreas, ou seu corpo é feito de sílica?

Cinismo da elite que domina as massas, porque sabem muito bem a História e o porquê de explorarem as pessoas. Conhecem muitíssimo bem que nas culturas humanas mais antigas nós eramos comuns com nossos semelhantes, era assim entre os chimpanzés, era assim entre os caçadores-coletores.

Essa elite cínica sabe como a exploração foi implantada por eles desde o surgimento das sociedades agrícolas e posterior ascensão dos liberalismo burguês.

Nada disso é biológico, tudo é um produto econômico-social.

Mais exemplo: se você é cristão, caro leitor, gostaria de saber como ficarias se houvesse a ascensão de um império mulçumano e a morte de seu deus querido. Isso não é mera suposição, ou heresia, pois sabemos que matamos implacavelmente os deuses de outras culturas. Imaginem as lágrimas, dor, morte e extinção dos Kariris no Ceará, ou dos Sioux na América do Norte? Belo trabalho fizemos, não é?!

Se nós brasileiros exterminássemos, por exemplo, os argentinos, o deus cristão sobreviveria conosco. No caso dos Kariris e Siouxs, entre milhares de outros povos, exterminamos tudo deles, inclusive suas culturas e deuses. Ou você já ouviu alguém fazer preces para deuses como Nhinhó, ou Wakan Tanka?!

Como é difícil de se fazer entender por aqueles onde a leitura falta e ser entendido onde sobra o cinismo!

Somos animais, primatas, talvez os mais macacos entre os macacos.

Olhamos no espelho e está lá nos genes, carne e ossos que constituem nossos rostos, nas homologias que compartilhamos com nossos ancestrais.

Verdade que biólogos formados devam entender de conceitos de homologia e evolução, não sei se eles sabem que isso tem muito haver com suas vidas e os problemas humanos que enfrentamos no cotidiano, em suas próprias vidas.

Amanhã estarei em sala de aula, sou obrigado a fazer isso, porque é meu emprego. Por mim, ministraria apenas disciplinas optativas com alunos motivados por sua curiosidade e famintos por literatura para aumentar sua compreensão do mundo e de si próprios.

Infelizmente o mundo não é perfeito, mas sim constituído à nossa imagem e semelhança, um verdadeiro Planeta dos Macacos...

...Para os macacos humanos leigos e os cínicos bem informados.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Um banho de Tempo



Você está no banheiro, liga o chuveiro e começa a tomar um bom banho numa tarde quente do nordeste. Pensamentos vão e vem, enquanto a água cai do chuveiro ao chão, uma mini-cascata só sua. Água de cima a baixo... Quanto tempo demora ela cair no chão? Quanto tempo demorou seu banho? Afinal, o que é tempo?

Boas perguntas em um banho, hein?!

A resposta de hoje é simples, embora levamos séculos de estudos para isso. Sendo objetivo, curto e grosso:

O tempo é nossa percepção de deslocamento no espaço desde o Big Bang. Só isso!!!

Toda a vida deste planeta está adaptada aos ciclos de rotação (dia e noite) e translação (estações) da Terra. Esses movimentos são resultado da ação de forças gravitacionais que tiveram origem no Big Bang. É dessa forma que nos deslocamos no espaço, em nosso sistema solar, Via Láctea... até o fim!

Preste muita atenção caro leitor, porque o fenômeno tempo não é a media que se faz através da convenção acordada internacionalmente nas Conférences Générale des Poids et Mesures (CGPM). Contar é apenas afirmar que existe algo e não dizer o que contamos é na realidade.

Muita gente pode ficar irritada, expor que o tempo é algo impenetrável, uma questão filosófica sem fim e novamente trazer um monte de citações como a famosa frase de Santo Agostinho sobre o tempo:

"
Se ninguém me perguntar eu sei, porém, se quiser explicar a quem me perguntar, já não sei".(Confissões, II, XI, 12, 14, 15 e 20)

Repito para ficar claro: o tempo é um fenômeno resultante de nosso deslocamento no espaço, ponto.

Em nosso exemplo do banheiro, podemos calcular o tempo que levou as gotas de água do chuveiro ao chão. O tempo calculado será similar ao deslocamento da água no espaço.

Existem outras faces do tempo abordadas de forma equivocada por muito "pensador" por aí. Falo de nossa consciência do passado, presente e futuro.

Antes que qualquer um andar falando em passado, presente e futuro deveria entender o básico sobre neurofisiologia e evolução da mente humana.

Passado é formado de recordações que precisamos para montarmos nossa personalidade, guardar informações importantíssimas sobre o ambiente e os recursos da nossa sobrevivência, trabalharmos essa informação no presente (o que existe de verdade) e projetar planos e estratégias futuras.

A informação de passado em nossa mente está em várias redes de neurônios com padrões de descargas eletroquímicas. Só isso!!! Danifique o cérebro e você verá que seu passado mais remoto, ou o recente poderão ser simplesmente apagados. Tema de filmes de ficção e o sofrimento com os défices amnésicos dos portadores do mal de Alzheimer.

O passado também está em ondas de transmissão de TVs, rádio e na luz das estrelas.

Entenda como seus sentidos funcionam. O olfato e a gustação são sentidos interpretados por quimiorreceptores, ou seja, odor e o sabor só existem quando moléculas entram em contato com as áreas sensitivas de seu nariz e boca, respectivamente.

Isso explica o sentimento de terror que sentimos diante dos cheiros mais desagradáveis como os de cadáveres, fezes, urina, esgoto e lixo. O odor sentido quer dizer que moléculas dessas coisas desagradáveis estão em seu nariz. Grosso modo de escrever, se você sente o cheiro de fezes é porque há “floquinhos de cocô dentro de seu nariz”... Argh!!!

Sua visão e audição são maravilhosamente diferentes. Esses sentidos estão baseados na percepção e interpretação de ondas eletromagnéticas e ondas sonoras, respectivamente. O fenômeno é interpretado sem tocar o objeto. Em outras palavras, vemos e ouvimos por reconstituição cerebral, não tocamos os objetos com esses sentidos... O oposto do olfato e gustação.

Por isso, podemos reproduzir em padrões de ondas eletromagnéticas as imagens e transmiti-las. O mesmo vale para as ondas sonoras que pode ser reproduzidas por nós.

Quando você assiste TV, mesmo que esteja lá no canto do vídeo escrito “Ao Vivo”, você está vendo a reprodução de imagens, você está vendo o que aconteceu. Pegue seu carro e corra até o local da notícia “Ao Vivo”, as imagens que você viu não estarão lá. O evento poderá ainda está ocorrendo, só que em outra etapa.

Você viu na TV o passado e ele não corresponde ao presente. O passado não existe, apenas podemos recriá-lo na interpretação de sentidos em nosso cérebro, nunca podemos recriar um evento passado em si.

Não podemos recriar em um CD o padrão de odores e sabores, mas, devido a nossa capacidade sensitiva da visão e audição podemos gravar em códigos reconhecíveis pelo nosso cérebro entrevistas, vozes, músicas, uma infinidade do que somos, guarda-las e até transmiti-las.

Entretanto, NÃO ESQUEÇA, as imagens e sons que você vê são reproduções de ondas eletromagnéticas em seu cérebro. Vou ser bastante repetitivo: É UMA REPRODUÇÃO DO SEU CÉREBRO DE ONDAS ELETROMAGNÉTICAS. É só reproduzir as ondas iguais, que os cérebros humanos reproduzem as mesmas imagens. Simples assim!!! EIS O MILAGRE DA TV!!!

Por isso não é possível viajar no tempo!!! Entendeu?!

Se tempo é a sensação de deslocamento no espaço (nossa adaptação aos movimentos de rotação e translação), então JAMAIS PODEMOS VOLTAR FISICAMENTE PARA O LUGAR NO QUAL NÓS NÃO ESTAMOS MAIS!!!

Eu sou um iconoclasta mesmo! Acabo de estragar o romance de H. G. Wells ("A Máquina do Tempo") e os poderes de Hiro Nakamura (no serido da TV "Heroes"), rsrsrs!!!

Veja a figura acima, é a descrição mais moderna do universo segundo Stephen Hawking. Note o ponto inicial, é uma singularidade: o Big Bang. O tempo como definimos é resultado dessa singularidade. Antes do Big Bang não há tempo, nem qualquer coisa que se assemelhe ao universo como conhecemos hoje.

Meu amigo Getúlio (IBAMA-PB) fez um comentário muito interessante sobre as estrelas no post passado (
Os esporos reprodutivos de Gaia). Ao olharmos para cima em uma noite estrelada, o brilho que vemos, as ondas eletromagnéticas reproduzidas pelo nosso cérebro, consiste de emissões milhares, ou bilhões de anos luz de onde estamos.

Nós vemos o passado olhando para os céus!!!

Se uma nave espacial fosse lançada rumo a uma das estrelas, ela deveria ir muito, muito rápido, porque ao chegar lá a estrela poderá estar morta, ou modificada em algo bem diferente daquilo que observamos antes na terra. Nunca poderemos estar entre as estrelas que vemos hoje, não exatamente as mesmas, ou da mesma forma que se apresentam hoje.

Levei minutos para digitar este texto, no decorrer do tempo fui à cozinha beber água e voltei. Não posso voltar rápido à cozinha para encontrar a mim mesmo, porque eu estou aqui no computador. Lembro do que fiz recentemente, mas não posso reviver isso com meu corpo.

A teoria da relatividade implica que se viajarmos à velocidade da luz percorreremos o espaço-tempo de tal forma que, comparativamente, envelheceremos menos do que as pessoas viajando em velocidades normais. Veja bem que isso não é viagem no tempo. Este passará mais lento para uns e mais rápido para outros. Tudo em relação à velocidade de deslocamento dos corpos no espaço. Por isso, por favor, não cite Einstein para a possibilidade de viagens no tempo. Isso não é possível, porque os viajantes mais jovens à velocidade da luz, ao final de sua trajetória não encontrarão a si próprios, apenas atingirão seu objetivo muitíssimo mais rápido.

Em seu banho, a água que caíu no chão se deslocou no espaço em uma determinada velocidade. O tempo pode ser medido mediante esses dados, o tempo é esse deslocamento da água. Qualquer uma das gotas d'água em seu banho não voltará a ocupar um espaço no tempo passado. Toda a água está noutro lugar no tempo presente.

Mas já que estamos abordando esse tema no início de um novo ano, lembremos que 2008 é só passado, não existe mais. Hoje, dia primeiro é tudo que temos para compreender os erros e acertos do passado e construirmos um 2009 muito melhor.

Vamos protestar contra a destruição dos nossos recursos naturais, a extinção em massa das espécies e todas as injustiças e desgraças sociais geradas por esse sistema capitalista.

Mudemos nossos hábitos e sejamos seres humanos muito melhores do que somos. Chimpanzés não destroem seu lar, por que nós “tão
sapiens” fazemos isso tão racionalmente?

Essa é nossa missão mais importante na atualidade!!!

Não desperdice seu tempo, viva seu presente e seu espaço, construa o futuro aqui e agora!!!

Nesse nosso banho de Tempo!!!
CHUÁ!!!
 
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