Se você nasceu um homem, heterossexual e branco, não sofrerá nenhuma das discriminações postadas anteriormente (mulheres, homossexuais e negros). Entretanto, há uma tênue linha vermelha que pode ser ultrapassada por um acidente, ou algum tipo de doença, onde esse homem pode se tornar deficiente. Em outras palavras, falar de loucos e deficientes físicos nos comove, porque todos nós, por motivo ou outro, podemos ser um dia assim.
De forma similar, deficientes físicos podem ser resultado de má formação embriológica, acidentes e devido à senescência de nosso corpo.
Entretanto, ao classificarmos alguns tipos de deficientes como "loucos", essa loucura em si nos fascina por um lado e deixa-nos desconcertados por outro. Loucura é para alguns quebrar regras sociais, ou mesmo correr riscos desnecessários. Por outro lado, não entender e deixar de cumprir regras sociais é comparado ao estado bruto animal, como defecar em praça pública, agredir uma pessoa sem motivos, nadar nu no lago artificial em frente ao Palácio do Planalto.
Já escrevi no post Realidade, que há forças genéticas e sociais fortíssimas definindo comportamentos médios, onde a maioria forma a regra. Entre nós humanos quão mais longe da média você estiver, menos atrativo será. Isso serve para todos os discriminados, em vias de regra, porque não formam os núcleos da "maioria".
Não vemos com facilidade animais loucos por aí, qualquer desvio exagerado no comportamento é eliminado pela seleção natural. Por exemplo, se baleias líderes perdem a capacidade neurosensorial eletromagética podem guiar todo baleal para a morte na praia. Uma mudança letal no comportamento.
E nós humanos?
Solidão pode matar! Na natureza mais ainda. Se um macaco é expulso de um grupo, ele dificilmente será aceito por outro. Não estou escrevendo da migração das fêmeas em Pan troglodytes, nem das dos machos em Pan paniscus. É o expurgo do macaco ômega... Ficar só é morte certa.
Pessoas com deficiência lutam para serem aceitas. Lutam com todas as forças para tentar levar uma vida normal, mesmo que isso em algumas vezes seja quase impossível.
Três coisas em graus de importância nos fazem preservar indivíduos com algum tipo de deficiência ou doença mental entre nós: amor materno, princípios éticos e auto-preservação por empatia.
Como já escrito neste Blog, amor de mãe é genético e incondicional. Filhos com problemas, em média, não deixam de ser amados como filhos... ou até mais amados ainda, caso sejam frágeis e dependentes.
Por princípios éticos, grande parte dos povos humanos atuais defendem os direitos humanos, sendo o mais básico, o direito à vida. Isso é algo recente e oficializado no século XX (ONU, Declaração dos Direitos Humanos, 10 de dezembro de 1948). Todos conhecemos histórias de povos que não toleram qualquer tipo de deficiência, o exemplo clássico de Esparta, ou nas culturas dos nossos ameríndios.
Lembro ainda quando criança do dia em que tentei usar as muletas de uma visita familiar, que estava com a perna quebrada. Queria só ver como era... Minha mãe ficou uma "arara" comigo e quase apanhei feio. Ela não queria ver seu filho usando muletas, nem por brincadeira!
Eu entendo o medo que ela sentiu, até porque, anos depois, seu irmão (Tio Jorge) teve três derrames cerebrais (AVCs) e ficou paralisado. Morreu no quarto derrame e já usava fralda geriátrica. Tio Jorge foi um homem comum, temente a deus, morreu deficiente e completamente dependente de sua esposa.
Em nosso cotidiano é estranho como nos esforçamos para esconder isso de nós mesmos. Construímos manicômios para os loucos, guardamos em casa nossos deficientes... é como se eles não existissem. Estão ausentes na maioria dos romances clássicos, filmes, novelas, nos lugares que andamos, nas repartições públicas, escolas, hospitais, etc.
Onde estão essas pessoas?
Novamente, lembrem-se do tamanho populacional de nossa espécie, somos 6,5 bilhões de indivíduos. Isso significa que 1% desse montante é da ordem de 65 milhões de pessoas!!! Segundo Cristina e Resende (2006), no Brasil são cerca de 24,5 milhões de pessoas com alguma deficiência física. Isso é quase duas vezes mais do que toda a população do Chile!!! Esse dado não inclui os deficientes e doentes mentais.
Em nossa constituição há direitos dos portadores de deficiência física e há lei nacional para que sejam ofertadas e preenchidas vagas no serviço público (artigo 37, VIII, da Constituição da República, princípio da igualdade, art. 5º, caput da CR/88, Lei Federal n° 7853, de 24 de outubro de 1989). Isso deveria ser também aplicado no setor privado.
Entre os loucos famosos, cita-se Van Gogh e mesmo Nietszche, que terminou seus dias entre loucos delírios se auto-identificando como o Deus Dionísio em carne e osso. O personagem que até hoje mais me emocionou foi Forrest Gump. Lembro que em 1994 sai do cinema segurando as lágrimas pensando "é só um filme, não existem 'Forrest Gumps' na vida real". Eu estava enganado?!
Entre os deficientes físicos, não deixo de prestar sempre homenagem a Stephen Hawking. O maior físico contemporâneo, era um homem heterossexual, branco e de sucesso acadêmico. Casou-se, teve três filhos e descobriu que era portador de esclerose lateral amiotrófica.
Minha própria irmã é portadora de Esclerose Múltipla. Ela é casada, tem uma filha linda, é funcionária federal e leva uma vida normal. Controla a doença através do uso de beta-interferon, dieta e uma calma que é só dela.
É de responsabilidade humana tornar o mundo melhor em todos os sentidos. Isso implica no combate à qualquer sistema político, social e econômico de exclusão e desumanização, como esse nosso mundo capitalista e alienado em que vivemos.
Ao escrever este post, não tirei da cabeça a propaganda contra o preconceito dos portadores da Síndrome de Down. A música é do Radiohead ("Fake Plastic Trees", 1995) e selecionei esse vídeo para representar todos os discriminados comentados aqui:
Tenham preocupações e ações verdadeiras!
http://www.revista.inf.br/contabeis08/pages/artigos/cc-edic08-anoIV-art03.pdf
http://www.icb.ufmg.br/lpf/revista/revista1/volume1_loucura/cap1.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Deficientes
http://pt.wikipedia.org/wiki/Defici%C3%AAncia_mental
4 comentários:
Surpreendente... os textos apresentados neste blog são de uma riqueza estonteante! bobo daquele que não acompanha!
Obrigado, Marcelo!!!
Um grande abraço, meu amigo!!!
W.
Waltécio, mais uma vez você tem razão. Ou se não tem, eu sou seu admirador e seguidor!
E se a pessoa for deficiente como você mostra e pobre, rapaz, o "bicho" pega mais ainda. Aí deixa de ser uma questão só de preconceito e discriminação e some-se a isso as enormes dificuldades de sobrevivência. Tem gente que não tem à disposição os recursos que minimizem a deficiência e nós mesmos já vimos pessoas se arrastando, literalmente, pelas ruas porque não tinham dinheiro para comprar uma cadeira de rodas.
Triste realidade capitalista onde um equipamento como uma cadeira de rodas vira mercadoria.
Camarada... e tem gente que pensa que esse mundo de exploração humana é "natural".
Um dia a casa cai!!!
Abs,
W.
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